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Mercado como Potencializador de Soluções de Impacto: O caso da Retalhar

  

Estima-se que 150 bilhões de peças são produzidas anualmente em todo o mundo e que apenas 15% deste total é destinado a reciclagem, sendo que somente 1% deste material reciclado é utilizado na produção de novas roupas. A gestão de resíduos vem sendo um ponto de preocupação para o setor têxtil e de confecção, no Brasil a insuficiência de práticas que auxiliem na destinação correta dos resíduos têxteis impacta ainda no atendimento a legislação prevista na Política Nacional de Reíduos Sólidos (lei 12.305/2010), causando um desperdício diário de toneladas de recursos, impactando negócios, meio ambiente e sociedade. 

Com o objetivo de promover a economia circular e o debate de soluções para o desafio da gestão de resíduos, o SENAI CETIQT apoiado pela Laudes Foundation, convidou noúltimo dia 09/12, às 16 horas, o empreendedor socioambiental e cofundador da Retalhar, Jonas Lessa, para uma conversa sobre o tema "Mercado como Potencializador de Impacto: O Caso Retalhar". Nesta apresentação, conversamos sobre o modelo de négocio da empresa,  gerenciamento de resíduos têxteis, particularmente sobre as estratégias de logística reversa de uniformes profissionais e sua correta destinação no fim da sua 1ª vida útil.

A Retalhar é uma empresa de logística reversa certificada pelo sistema B, com a missão de viabilizar a gestão responsável de resíduos têxteis por meio de soluções inovadoras e inclusivas, gerando impacto socioambiental positivo”. Atendendo a clientes que buscam soluções inovadoras e projetos personalizados para o descarte de uniformes, já transformaram mais de 100 mil kg de uniformes profissionais, poupando aterros e a sobrecarga de recursos naturais.

Jonas explica que a iniciativa nasce da inquietude do biólogo Lucas Corvacho e seu olhar coletivo, preocupando-se com o bem-estar de todos. Lucas convida Jonas, que era estudante na ocasião, para desenvolverem um projeto de sustentabilidade dentro de uma empresa de confecção de uniformes. O projeto desdobra-se em outros projetos até surgir a Retalhar. Conhecendo as dificuldades que a indústria têxtil enfrenta em relação a questões ambientais e sociais, os sócios pretendiam preencher essa lacuna da gestão de resíduos têxteis em território nacional, mas percebem que não era apenas uma lacuna, na verdade era os desafios eram ainda maiores, contatando que a empresa deveria se pautar na busca de soluções para essas dificuldades

Chamado de projeto zero, o primeiro projeto desenvolvido pela Retalhar a partir de resíduos de pré-consumo, buscava soluções para os resíduos provenientes no corte da confecção e no percurso percebem a falta de soluções estruturadas para as empresas que tinham essa preocupação.  A partir daí demandas dos clientes começaram a aparecer como: estou trocando todos os meus uniformes, o que eu faço com os uniformes antigos? O que você empresa que confecciona meus uniformes antigos e novos, pode fazer para me ajudar a me desfazer dos antigos? A partir destes questionamentos eles começam a entender que as maiores demandas eram para os resíduos pós-consumo e acabam focando e se especializando neste mercado.

Esse período de início do negócio coincidiu com a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) que 

representou a primeira política pública nacional a abordar essa questão da redução de resíduos, incentivando padrões de produção e consumo sustentáveis, estimulando a logística reversa, a reciclagem e o uso de tecnologias limpas. Ainda não existe no Brasil nenhuma regulamentação para o descarte de resíduos têxteis por uma confecção.

Atualmente a empresa oferece para seus clientes, negócios que precisam resolver o problema de descarte de uniformes, um serviço com um viés socioambiental. Além da questão ambiental os projetos da retalhar utilizam uma cadeia produtiva inclusiva, com costureiras da periferia da grande São Paulo. Hoje a retalhar só atua em São Paulo. Alguns processos são internos, outros são terceirizados.

Oferecendo algumas opções de destinação correta para esses uniformes como transformá-los, através de upcycling em novos produtos que façam sentido para os clientes ou funcionários da empresa como brindes, ou ainda, a partir da reciclagem de resíduo têxtil, transformar os uniformes em cobertores populares. Além de um serviço de consultoria. Segundo Jonas não existe no Brasil outra empresa com essa experiência em economia circular em uniformes. Os problemas ambientais causados pela indústria têxtil começam na concepção dos produtos. Sob esta perspectiva a consultoria ajuda na orientação e desenvolvimento de produtos que colaborem com uma economia mais circular.

Jonas explica que um pouco do processo da Retalhar e como se dá o início aos processos para construção de um projeto junto aos seus clientes. Através de um primeiro contato pelo site da empresa, o cliente passará algumas informações para que a equipe da Retalhar para que seja feita uma avaliação e um diagnóstico do material e da viabilidade de reutilização. Algumas variantes são levadas em consideração como a quantidade e o tipo de material. O trabalho só é viável a partir de uma grande quantidade de uniformes.

Segundo Jonas, essa primeira triagem permite direcionar o melhor caminho a seguir, uma vez que existem tecidos variados com composições e construções variadas e isso resultará em processos de reciclagem e reutilizações diferentes também.  O primeiro processo feito pela Retalhar é a inutilização das peças, a partir da desmontagem dos produtos. As possibilidades de reaproveitamento e reciclagem irão variar de acordo com o tipo de material. Uma malha de poliéster, por exemplo, é ótima para o processo de desfibramento que resultará na confecção de cobertores, uma malha mista já não funciona tão bem no desfibramento. Já uma malha 100% algodão pode virar uma nova malha 100% algodão.

"A Retalhar integra a vida têxtil ao utilizar o reaprveitamento de resíduos como ferramenta para valorizar pessoas". Este é o propósito que a empresa divulga em seu site. É através da indústria têxtil que o negócio se propõe a tocar, inspirar e atingir mais pessoas, pois acredita no potencial do setor para este fim, afinal estamos cercados e sendo tocados por tecidos o tempo todo. A empresa ainda se orienta pelos seguintes Objetivos de Desenvolvimento Sustentável:

                                                                 ​​​​​​​

O verbo retalhar tem o significado de cortar em retalhor e dividir em várias partes. A partir da fragmentação dos uniformes os jovens empreendedores da Retalhar buscam a rconstrução de um mundo melhor, respeitando e valorizando questões sociais e ambientais. Esse foi mais um modelo de negócio inovador apresntado em uma das lives do Projeto Moda Circular: início de um novo ciclo para indústria da moda, que você pode assistir acessando aqui.

 


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