O limiar entre a idade cronológica (a idade que você tem) e a idade subjetiva (a idade que você sente) tem se tornado ainda mais tênue à medida que os jovens amadurecem mais rápido e as pessoas mais velhas sentem a mente mais jovem, combinando a liberdade da juventude com a experiência e a maturidade adquiridas na maior idade. À medida que a população aumenta em conjunto com a expectativa de vida, a manutenção da qualidade do viver extingue as ideias rígidas e antiquadas sobre quando e como atingir os marcos de vida, tornando-as não só retrógradas e limitadoras, mas também símbolos de uma pressão social que afeta a saúde mental e física da população.

Isso porque muitas das noções de crono-normatividade são inacessíveis e inatingíveis. Podemos chamá-las de utopias sociais com as quais sonhamos e somos cobrados durante toda a trajetória de vida. Entretanto, poucos ou quase nenhum ser humano consegue construir uma vida inteira de acordo com esses marcadores. A expectativa social de atingir marcos da vida até uma idade específica, como se casar, comprar uma casa ou ter filhos, aos poucos, vai tomando outras formas.

 

 

Esses marcadores de vida já estavam sendo reorientados antes da pandemia, mas foi durante esse período que as ideias se solidificaram. A pandemia redefiniu as metas da maioridade e transformou o ideal de se preparar para novos estágios da vida. Agora, as metas são focadas no hoje. O que as pessoas são capazes de construir no momento presente ganhou mais importância, e, com isso, surgiram mais celebrações.

O "salto pandêmico", um termo que vem sendo utilizado para descrever o processo de envelhecimento durante um período de estagnação global, refere-se ao sentimento de aprisionamento temporal, em que as pessoas se sentem mais jovens do que realmente são.

Isso fez com que mais pessoas repensassem os marcadores de vida tradicionais e passassem a viver a favor da liberdade em suas vidas pessoais e profissionais.

Nesse contexto, os consumidores estão reavaliando quais conquistas são mais importantes para eles, dando às marcas uma oportunidade de fazer parte desses momentos, construindo uma comunidade engajada em comemorar suas grandes e pequenas vitórias. Com as dinâmicas de vida em constante transformação, a celebração agora vai além dos filhos, da casa e do trabalho.

 

 

No momento, cada fase evolutiva de um relacionamento amoroso é comemorada, seja uma escova de dente ou uma aliança. Com a parentalidade sendo adiada ou repensada, muitos priorizam as amizades e as convivências práticas. Impulsionados pelo alto custo de vida e pela instabilidade financeira, a busca por experiências mais flexíveis e o adiamento de conquistas tradicionalistas aumentam a capacidade dessa geração de poupar e investir no futuro, mas sem abrir mão de viver bons momentos e aproveitar as experiências vividas no presente.

Tendo essa nova mentalidade em vista, a carreira profissional de cada indivíduo tem tomado novos rumos. A geração hiper conectada e sedenta por desafios valoriza as mudanças e preza por jornadas que priorizem seu propósito pessoal. A independência é reinterpretada, tornando-se menos restritiva e engessada.

Com o decréscimo do interesse geral por adquirir bens materiais de alto porte, o consumidor torna-se mais propenso a gastos de baixa manutenção e supérfluos. As pequenas vitórias cotidianas, ligadas à saúde mental, autodescoberta e autoaceitação,

ganham espaço nas redes sociais e transformam essa geração em consumidores desafiadores, dispostos a utilizar as compras como ferramenta de prazer e autocelebração.

 

 

A maneira como as pessoas celebram momentos marcantes – e os próprios momentos que escolhem celebrar – está se modificando. Isso cria novas oportunidades para marcas inovadoras explorarem um universo mais inclusivo e diversificado de celebrações.

Um bom exemplo desse comportamento é a Geração Z, que assimila e registra a própria vida em eras estéticas, com marcos traduzidos em imagens, moods e experiências sensoriais. Compreender essa fluidez e oferecer experiências imersivas e produtos que transcendem faixas etárias ajudam as marcas a se conectarem mais profundamente com consumidores que rejeitam rótulos demográficos, valorizando o momento presente e as múltiplas formas de crescimento, celebrando sua trajetória com criatividade e interatividade digital.

 

Pontos de Inflexão

• Celebre Pequenos Vislumbres de Alegria: Ofereça produtos e serviços que ajudem os consumidores a comemorarem momentos marcantes, sejam eles grandes ou pequenos, como pagar uma dívida antiga ou alcançar um objetivo pessoal.
• Transforme tabus em oportunidades de celebração: Eventos traumáticos, como divórcios e demissões, vistos como experiências privadas e dolorosas, ganham um novo significado como marcos de transformação e empoderamento. Explore produtos e campanhas que tragam conforto e celebração, mas seja sempre sensível ao contexto emocional envolvido.
• Promova a efervescência coletiva: Crie experiências que unam as pessoas, tanto no ambiente digital quanto no físico, fortalecendo comunidades em torno de interesses comuns. Essa abordagem não apenas impulsiona a conexão entre indivíduos, mas também reflete o desejo crescente por autenticidade e pertencimento.
• Inspire celebrações compartilhadas: Pense em eventos ou produtos que incentivem celebrações espontâneas e colaborativas, como peças de moda que simbolizem unidade ou itens de decoração que criem ambientes acolhedores para reuniões.
• Amplie o foco além dos relacionamentos românticos: Atenda às necessidades de jovens consumidores que valorizam amizades e conexões sociais, tanto online quanto offline. Explore formas de combater a solidão por meio de iniciativas que incentivem a formação de comunidades e laços duradouros, como coleções temáticas de moda ou espaços de convivência criativos.

 

As novas formas de celebrar a vida refletem um movimento de ressignificação dos marcos tradicionais e adaptação às mudanças culturais, sociais e econômicas. Em um mundo cada vez mais fluido e conectado, os consumidores buscam experiências que traduzam seus valores individuais, priorizando a liberdade, a autenticidade e o momento presente.

Para marcas visionárias, esse cenário representa uma oportunidade única de se conectar com seus públicos, oferecendo produtos, serviços e experiências que ressoem com a nova mentalidade. O foco em micro momentos, a reinterpretação de tabus e a valorização das conexões coletivas são caminhos para não apenas atender, mas também inspirar essa geração em constante transformação.