Responsive Image
COMO A CIRCULARIDADE PODE CRIAR VALOR A PARTIR DE MODELOS DE NEGÓCIOS COLETIVOS?

A inevitabilidade de uma gestão sustentável da cadeia de suprimentos da moda é imperiosa e o modo de produção circular é um trajeto para alcançar esse objetivo. Para percorrê-lo, os desafios vão desde balizar o entendimento do conceito de economia circular entre todos os atores envolvidos, até o uso de novas ferramentas e técnicas para coordenar todos os elos garantindo a comunicação e a transparência. A importância crescente da economia circular se deve pela sua relevância na obtenção de melhorias, e na redução e otimização de custos em produtos e processos. Sua base é explorar ao máximo os recursos e extrair valor através da eliminação do desperdício. Nesse modelo, a ideia de resíduo é transmutada, e este passa a ser considerado insumo.

 

O processo de comercialização ou permuta de resíduos e outros recursos, de uma empresa para outra, é cada vez mais comum e tem como base um modelo de negócio coletivo para o reaproveitamento e intercâmbio de materiais, atribuindo valor ao que antes, no modo de produção linear, seria descartado. Em outros termos, uma espécie de “ecossistema industrial”, o que não serve mais para um, vira nutriente para outro. Esta cooperação é uma prática que identifica oportunidades antes inexploradas e permite que as empresas possam gerar novas receitas, com negócios alternativos, e reduzir custo, com a melhoria dos processos.

O compromisso de alcançar padrões sustentáveis de desenvolvimento é o que hoje conduz a transformação da sociedade planetária, e é nesta articulação global que a economia circular se estabelece. À medida que as cadeias de suprimentos se desenvolvem e se transformam em redes interconectadas e transetoriais, as mudanças vão impactar cada um dos atores. A manufatura distribuída e a recuperação local de materiais contribuirão para reações positivas face às adversidades, e para a agilidade no desenvolvimento do produto através do conhecimento colaborativo e da gestão do ciclo de vida. O design fundamentado na durabilidade, reparo e remanufatura são também alternativas para promover a circularidade em redes de colaboração, e podem refletir em um significativo aumento nos fluxos reversos, onde o valor do produto e dos materiais componentes devem ser preservados até o fim da sua vida útil.

A economia circular propõe que os resíduos de uma indústria sirvam de matéria-prima reciclada para outra ou para ela mesma, ainda que não sejam da mesma área de atuação. Muitas pesquisas de desenvolvimento de novos materiais têm explorado, por exemplo, a transformação de resíduos agrícolas, que seriam descartados ou incinerados após a colheita, e resíduos de alimentos pós-consumo, em matéria-prima de alto valor agregado para a indústria têxtil. O projeto Orange Fiber, desenvolvido por pesquisadores italianos, utiliza a celulose extraída do bagaço da laranja como insumo para o desenvolvimento de novas fibras. A Piñatex, criou um tecido natural a partir das folhas do abacaxi, que antes eram descartadas. E ainda, a Tidal Vision, que transforma subprodutos oceânicos em um tipo de “couro ecológico”. No Brasil, temos pesquisas em andamento com casca de coco verde e também com cachos vazios de dendê. Essas e outras inovações demonstram o potencial de conexão entre indústrias de diferentes setores.

 

A interação industrial, resultante de novos modelos de negócio, é uma das principais agendas relacionadas à transição para um modelo de produção circular. As etapas necessárias para promover iniciativas desse tipo na cadeia de suprimentos da moda passam pela sensibilização, análise dos recursos e possíveis sinergias, e a criação de um Plano de Negócio coletivo. Há diferentes formas de cooperação que influenciam positivamente tanto o crescimento dos atores envolvidos, quanto o aumento de suas capacidades inovativas. Ademais, pode fortalecer o poder de compra, ao viabilizar o compartilhamento de recursos; possibilitar a convergência de habilidades, com a reunião de diferentes competências; e garantir o investimento em pesquisa e inovação, com a divisão do investimento necessário entre partes as beneficiadas. As estratégias são diversificadas, mas em todos os casos anunciam novas possibilidades de atuação no mercado. Como resultado, produtos com qualidade superior, desenvolvidos a partir das premissas de produção sustentável.

 

Os benefícios poderão ser notados em três dimensões, a econômica, com o aumento da eficiência no uso de recursos; social, com a geração de novos empregos em setores como o de reciclagem; e ambientais, com a redução do uso de matéria-prima inexplorada, e, por consequência, a redução das emissões de gases de efeito estufa . Essa simbiose pode resultar em interações lucrativas entre empresas de moda e de outros setores da indústria a partir de práticas de economia circular que desvinculam o crescimento das empresas do consumo de recursos. A circularidade amplia a cadeia de valor e a sustentabilidade dos processos produtivos, os materiais e recursos são mantidos na economia pelo maior tempo possível e a geração de resíduos é minimizada.

Ninguém inova sozinho. A cooperação está cada vez mais presente nas discussões e debates pautados na busca de alternativas para acelerar o desenvolvimento econômico e social dos países. Os modelos de negócios circulares possibilitam a criação de melhores processos, produtos e serviços, e expandem a proposição de valor através da captura de recursos perdidos, ou não percebidos, por todas as partes envolvidas. Para seguir nessa rota é preciso reavaliar o processo produtivo, rever Valores, atitudes e relações, para redefinir produtos e serviços.

 

Imagens: RF._.studio no Pexels; Sunsetoned no Pexels; Şehsuvar Şahin no Pexels.

 
 
 

Compartilhar

ARTIGOS RELACIONADOS

assine nossa newsletter
E RECEBA NOSSOS MELHORES CONTEÚDOS!