JÁ SABEMOS QUE PRECISAMOS DE UMA MODA CIRCULAR, AGORA É PRECISO ENTENDER COMO ALCANÇAR ESSE PROPÓSITO
Este é o ano da ação, do fazer acontecer, do pôr em prática as reflexões que foram feitas acerca da necessidade de mudança dos modos de produção e consumo, dos modelos de negócio, das cadeias de suprimentos, das relações de trabalho, e do desenvolvimento de produtos. Por isso, as publicações do Projeto Moda Circular estarão cada vez mais focadas no “como fazer” com o objetivo de ajudar você a entender por onde começar a jornada de transição para um modelo de produção circular.
A integração da circularidade na indústria têxtil e de vestuário pode ser entendida de diversas maneiras. Por essa razão, é totalmente compreensível não saber por onde começar. A moda circular ultrapassa o produto. Inclui abordar os impactos ambientais e sociais das atividades da empresa, o que requer uma análise dos elementos fundamentais do seu modelo de negócio, levando ao desenvolvimento de práticas inovadoras.
Estender a vida útil dos materiais e produtos, onde possível, ao longo de vários “ciclos de uso”; adotar a perspectiva de que os resíduos são nutrientes, para favorecer a recuperação dos materiais nos ciclos técnicos e biológicos; preservar a energia, a água e outros inputs de processos incluídos no produto e no material, pelo maior tempo possível; adotar métodos de pensamento sistêmico no desenho de soluções; regenerar e/ou conservar a natureza e os sistemas vivos, fazem parte dos objetivos comuns relacionados às diferentes abordagens de negócios “circulares”. Para facilitar o entendimento, vamos considerar uma “estrutura de economia circular” genérica (WEETMAN, 2019), composta por seis blocos - inputs circulares, design de produto, design de processo, fluxos circulares, modelos de negócio, e, capacitadores e facilitadores - e explicar o que significa cada um deles.
Imagem 1: Framework da economia circular. Fonte: Adaptado de Catherine Weetman (2019).
Os inputs circulares compreendem a utilização de materiais seguros, não-tóxicos, renováveis e, de preferência, reciclados. Significa projetar considerando o uso de recursos sustentáveis em sua lista de materiais. No design do produto, julga-se que um bom design precisa promover a longevidade, possibilitando que o produto dure mais, na primeira “vida” (ou ciclo) e nas subsequentes, de modo a ser usado sucessivas vezes, por mais tempo. O design deve habilitar e estimular fluxos circulares, facilitando a desmontagem e o conserto ao fim de cada ciclo de uso.
O design do processo inclui o planejamento de fluxos circulares, preservando “nutrientes” para uso posterior, a minimização do uso de recursos, tanto de materiais quanto de inputs de processo, como energia, água etc., que se transformam em recursos incorporados no produto. Nesse bloco é preciso se questionar se é possível desenvolver subprodutos e coprodutos, remanufaturar ou renovar produtos para novos ciclos de uso, e ainda, se é possível desenvolver ciclos simbióticos com outros setores de atividade.
Os fluxos circulares incluem pensar nas opções de reutilização, em que o produto é revendido ou compartilhado; na remanufatura, para que o desempenho do produto seja compatível com uma “segunda vida”; e na reciclagem, para que os materiais e componentes sejam usados em outro produto.
No bloco modelos de negócio e relacionamento estão os serviços para substituir a propriedade, como pay-per-use, aluguel, compartilhamento, e sistemas de troca. Serviços de reparo, manufatura e reciclagem ou revenda também podem formar a base do modelo de negócio.
Os capacitadores e aceleradores podem trazer benefícios ao longo de toda a cadeia. Os capacitadores incluem “química verde”, para melhorar a escolha do material ou ajudar no desenvolvimento de subprodutos; abordagem biomimética, para o design de produtos e seleção de materiais; código aberto e abordagens de pensamento sistêmico. A tecnologia abrange computação em nuvem, internet das coisas e tecnologia de sensores, big data, manufatura aditiva (impressão 3D), aplicativos móveis e plataformas de compartilhamento. As abordagens de stewardship do produto incluem avaliações do ciclo de vida do produto, padrões técnicos e certificações, e melhor compreensão das pegadas de recursos e das fontes de material sustentável.
O objetivo dessa postagem foi sintetizar a ideia de economia circular e apontar caminhos alternativos para iniciar o processo de transição. Entretanto, para além de explorar novos caminhos do design e da produção, a moda circular propõe uma reflexão sobre o próprio sistema da moda e a necessidade de transformação do setor. O propósito deve ser combinar a demanda e as oportunidades de negócio dentro dos limites de preservação ambiental, contribuindo para uma sociedade sem desperdício. Estamos definitivamente convencidos de que projetar para a circularidade é essencial para o futuro sustentável da indústria da moda.
Se você ainda não sabe em que estágio a sua empresa se encontra, aproveite para responder o nosso questionário de maturidade circular “Avalie sua empresa”, e entenda quais serão seus próximos passos.
Referências:
GWILT, A. Moda sustentável: um guia prático. São Paulo: Gustavo Gili, 2014.
SALCEDO, E. Moda ética para um futuro sustentável. São Paulo: Gustavo Gili, 2014.
WEETMAN, C. Economia circular: conceitos e estratégias para fazer negócios de forma mais inteligente, sustentável e lucrativa. São Paulo: Autêntica Business, 2019.
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Imagens: Tobi no Pexels.