Por NuSEC (Elisa Esteves, Victoria Santos e Angelica Coelho).

As estatísticas atuais apresentam dados preocupantes com relação à indústria da moda e à indústria têxtil como um todo. Segundo dados do relatório publicado pela Design4Circle (2019), a indústria têxtil é a maior geradora de resíduos industriais. Para se ter uma ideia, em 2018, 87% das fibras usadas no vestuário tiveram como destino final aterros ou foram incineradas. Em nível global, é esperado que nos próximos 10 anos, o consumo de roupas cresça 63% (EEA, 2019), o que corresponde a 2,8 bilhões de toneladas de CO₂ emitidos por ano até 2030.

A boa notícia é que a indústria reconhece que precisa mudar (C&A Foundation, 2019), e é para apoiar essa mudança que surgiu o Núcleo de Sustentabilidade e Economia Circular (NuSEC).

O Brasil é um dos principais mercados da indústria global da moda. Seus setores de vestuário e têxtil são um dos maiores do mundo, ocupando a quarta e a quinta posições, respectivamente. O país também possui a maior cadeia de valor para a indústria têxtil do mundo ocidental, incluindo todos os elos da cadeia produtiva. Segundo a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT), o setor abriga mais de 27 mil empresas e emprega mais de 4 milhões de trabalhadores (em termos de empregos diretos, indiretos e efeito de renda).

Apesar de seu tamanho e relevância no mercado global, a indústria da moda no Brasil ainda carece de informações confiáveis e consolidadas relacionadas às suas iniciativas de sustentabilidade e economia circular, cada vez mais em foco no cenário internacional.

Diversos modelos vêm sendo desenvolvidos tanto por empresas do ramo, quanto por organizações governamentais e não governamentais, a fim de definir estratégias e diretrizes para as fases do ciclo produtivo visando criar produtos éticos, saudáveis e ecológicos. Inclusive, grandes empresas e marcas reportam periodicamente relatórios de sustentabilidade. Um exemplo é a iniciativa da Inditex, dona da marca Zara, que concebeu uma visão de práticas circulares e sustentáveis que podem ser adotadas em cada etapa da cadeia produtiva desde o uso de matérias-primas sustentáveis e têxteis reciclados, design de coleções sustentáveis, fabricação responsável, logística incluindo embalagem verde, lojas eco eficientes até o fechamento do ciclo com a reciclagem de materiais que seriam descartados.

 

No entanto, os dados gerados frequentemente se baseiam em estruturas metodológicas pouco transparentes, fragmentadas e heterogêneas, carecendo ainda de uma regularidade que permita o monitoramento do progresso do setor e a avaliação contínua de políticas e iniciativas públicas e privadas.

Nesse sentido, o SENAI CETIQT, cumprindo seu papel como centro de referência para as indústrias têxtil e química da América Latina, criou o Núcleo de Sustentabilidade e Economia Circular – NuSEC, posicionando-se como um dos principais apoiadores da transição da indústria têxtil e de vestuário brasileira para a sustentabilidade.

Contando com uma equipe multidisciplinar, o NuSEC é um núcleo catalisador e integrador de ações, capazes de impulsionar a materialização de iniciativas de sustentabilidade e economia circular, como parte das estratégias de negócios e operações na indústria têxtil brasileira.

Entre seus principais objetivos estão:

1. A avaliação contínua da indústria da moda brasileira em relação a suas estratégias e iniciativas de sustentabilidade e economia circular;
2. A avaliação e proposição de indicadores que apoiam os processos de tomada de decisão nas esferas pública e privada;
3. A nacionalização de relatórios de referência internacionais para aprofundar a compreensão do contexto brasileiro; e
4. A consolidação de uma rede de atores-chave da indústria da moda brasileira com foco em sustentabilidade e economia circular.

Seu modelo operacional é orientado para resultados, e se baseia no alinhamento com o setor, por meio de alianças estratégicas com as partes interessadas na caldeia de valor, e no aprendizado contínuo, visando à melhoria contínua dos processos.

É importante enfatizar que a pedra angular do NuSEC está na escassez de informações consolidadas para apoiar o progresso da agenda de sustentabilidade nas organizações. Assim, algumas iniciativas em andamento, sobre sustentabilidade e economia circular na indústria da moda, foram mapeadas para servir como elementos norteadores na estruturação e operação do NuSEC, tais como:

• A Global Fashion Agenda (agenda do CEO);
• O relatório sobre “Têxteis e roupas brasileiros na perspectiva da cadeia de valor global - possibilidades presentes e futuras” de Gherzi (2017);
• O livro “A quarta revolução industrial no setor têxtil e de vestuário: uma visão do futuro para 2030” de Silveira Bruno (2016);
• O relatório “O setor têxtil e de vestuário e os desafios da sustentabilidade” da CNI e ABIT (2017); e
• O Lab Moda Sustentável - fórum das principais partes interessadas para o avanço da agenda de sustentabilidade no setor.

O NuSEC foi concebido para se tornar uma entidade permanente na produção e compartilhamento de informações qualificadas sobre Sustentabilidade e Economia Circular para as indústrias Têxtil e Vestuário no Brasil. Esta é a primeira de uma série de produções que serão publicadas mensalmente aqui na seção Economia Circular do Inova Moda Digital.

 

Leia mais sobre as 8 prioridades para se alcançar a sustentabilidade na indústria da moda aqui.

Leia mais sobre a iniciativa da Inditex aqui.

Acesse o livro “A quarta revolução industrial no setor têxtil e de vestuário: uma visão do futuro para 2030” aqui.

 

Imagens: Jazmin Quainor on Unsplash e Inditex;