Parte 1/2

Começar uma nova coleção já não é uma tarefa fácil, que dirá diante desses novos tempos sob os reflexos da pandemia/isolamento social, que além de interromper bruscamente o ciclo da moda, é permeado de insegurança econômica intensificando as preocupações com o presente e com o que está porvir num futuro próximo.

Com a cadeia praticamente paralisada e com a falta de recursos de insumos e financeiros, muitos devem estar se perguntando: o que fazer daqui para frente? Como continuar entregando coleções fortes durante esse tempo de turbulência? Será que realmente existe o tal do “novo normal”?

A plataforma @trendstop, afirma que “cerca de 25% dos produtos em um determinado intervalo geram 75% dos lucros - um número surpreendente, mas que constatado repetidamente ao longo de 18 anos de negócios”. Isso significa que uma marca poderia acabar com 75% de sua coleção, sem afetar as vendas, além de economizar tempo, recursos e dinheiro.

Baseado nessa premissa, qual deveria ser a melhor estratégia: seguir com o mesmo planejamento realizado antes da pandemia ou fazer uma revisão mais cautelosa e pé no chão? Além disso, como surfar numa nova “onda” de inspiração e criatividade durante o confinamento, ainda sobre a pressão e a instabilidade geradas pela crise, sem cometer os mesmos erros do passado e sobrecarregar os estoques novamente, uma vez que o comportamento do consumidor, ainda é uma incógnita? 

Na verdade são muitos os questionamentos mas, por enquanto (e esperemos que para sempre) as empresas de moda precisam descobrir como avançar, não apenas para a sobrevivência, mas para o sucesso, permanecendo fiel a seus valores, à sua narrativa e suas habilidades, em todas as circunstâncias e, ao mesmo tempo, se livrar do que não se aplica mais a fim de se adaptar às novas necessidades e usos. Relevância + resiliência é o combo da atualidade.

No início de abril, apesar das vendas de todos os tipos de produtos terem conhecido baixas históricas, o site @bof previu que um dos setores mais afetados seria, sem sombra de dúvidas, o do fast fashion, muito pelo excedente de peças que ficariam armazenados. Tal previsão reforça o entendimento de que   é hora de pensar e refletir, de se apegar no que sabemos fazer melhor e rever os processos, e quem sabe, até desacelerar fazendo as coisas de um modo que pareça ser mais correto, para a empresa e para a equipe.

Nas últimas semanas, designers, compradores e editores tiveram uma oportunidade inesperada de abrandar, fazer uma pausa e propor mudanças radicais para o setor levando em consideração os calendários dessincronizados  das temporadas e o ritmo frenético que configuram o modelo atual como insustentável, tanto para o meio ambiente quanto para as pessoas envolvidas nos processos, abrindo mais espaço para reencontrar a liberdade criativa e a assertividade das coleções ao invés de um continuar num processo “mecânico”.

Colocando em prática, uma boa orientação para este reinício de coleções com foco na temporada Verão 20/21, é estar atento aos primeiros sinais que mostram que os consumidores estão mais cautelosos e mais orientados para o valor e, que as marcas que estão se mantendo são as que abandonaram as estratégias obsoletas, e levaram em conta o aprendizado para alimentar sua evolução. Embora ainda seja o início de um longo caminho a percorrer, qualquer que seja o lugar da sua empresa no mercado de moda (confecção, varejo, fornecimento) ou qualquer papel ou função que você ocupe, o momento pandêmico pode apresentar uma oportunidade para reorganizar e reorientar sua abordagem de sucesso.

Há muito o que fazer, mas é preciso ter calma e controlar a ansiedade de recuperação para não cometer os mesmos erros do passado: aproveite oportunidades para estimular sua criatividade, compensar a baixa oferta de matérias-primas diversificadas e até mesmo de reinventar seu estoque de forma bem criativa. A responsável pela marca de moda feminina comprometida e responsável Mister K, dá algumas dicas de como obter resiliência para superar os desafios:

Foto: "Nunca desista." Mister K

• Entenda e responda às aspirações mais profundas de seus clientes;
• Produza apenas a quantidade certa de produtos, da maneira certa; tente praticar o “estoque zero”.
• Faça um produto bonito, e faça o bem. Não desperdice tempo, insumos e dinheiro; não desgaste a sua equipe. Engaje-se à lógica do momento.
• “Seguro morreu de velho”: Para um novo momento social e financeiro, estabeleça uma nova ordem e proporção para as apostas estéticas até o mercado ficar mais estável. Analise o seu mix de forma a definir o melhor custo x benefício e aonde você, e sua equipe, devem depositar mais ou menos energia.
• O futuro está no momento presente”: a relação com o tempo pede cautela com relação ao futuro.

Continua em:

A PRÓXIMA TEMPORADA E A LÓGICA DO MOMENTO (Parte 2/2)

Live: REVISÃO DE TENDÊNCIAS VERÃO 20/21 – MODA FEMININA