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COLABORAR PARA CRIAR VALOR, FORTALECENDO A MALHA PRODUTIVA DAS MPEs DE MODA

Faltam 60 dias para 26ª conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, prevista para acontecer na cidade de Glasgow na Escócia, com a participação de líderes de 196 países. Na ocasião, será discutido quais os próximos passos para a implementação do Acordo de Paris, o mais importante compromisso multilateral sobre as mudanças do clima.  O relatório do IPCC, divulgado no mês passado, é uma referência para entender como prevenir uma catástrofe climática em escala planetária, e estabelecer limites para a emissão de gases que geram o efeito estufa. O momento é de ajustar o sentido do trajeto, pois já não é possível continuar na contramão. A mudança de mindset é urgente.

Já se sabe que algumas mudanças são irreversíveis, o que exige adaptação. Não obstante, é imediato repensar a cadeia produtiva da moda e encontrar novas articulações que possam contribuir para reduzir massivamente as emissões de carbono e a geração de resíduos. Pesquisadores que estudam questões do clima têm argumentado que é preciso uma transformação de enormes proporções, e em uma escala de tempo muito curta, para preservar um mundo habitável para toda a humanidade. Esse é o tipo de desafio que não se pode enfrentar individualmente, o envolvimento coletivo é fundamental para alcançar resultados relevantes, e esta perspectiva será essencial para promover o desenvolvimento sustentável na indústria da moda.

Imagem 1: Organizações Colaborativas.

Os Arranjos Produtivos Locais (APLs) surgem como uma oportunidade para fazer acontecer e podem ser considerados como “organizações colaborativas” na construção de um novo paradigma de interação. De uma forma geral, os APLs de moda compartilham os processos de preparação de insumos - fiação, tecelagem, beneficiamento -, fornecedores de tecidos, aviamentos e acessórios, e redes de distribuição. Outrossim, é possível produzir um sistema de colaboração de sentido muito mais amplo, através da inserção de processos circulares que favoreçam a criação de ecossistemas de inovação, no sentido da recombinação de recursos e materiais.

Os vínculos cooperativos entre as empresas amplificam a capacidade de gerar valor. Podem também, reposicionar a dimensão da produção para o desenvolvimento local, de modo que parte dos recursos gerados permaneçam na comunidade. Um bom exemplo é o APL Polo Moda Praia de Cabo Frio, na região da Baixada Litorânea do Rio de Janeiro, que reúne um conglomerado de micro e pequenas empresas. Em 2016, quase 10 anos depois de sua formação, o APL cabofriense lançou a marca coletiva “Polo Moda Praia” com o objetivo de profissionalizar a gestão e a produção da região. A icônica Rua dos Biquínis, antes Rua José Rodrigues Póvoas, que concentra centenas de lojas e fábricas locais, produz cerca de cinco milhões de peças por ano. Única rua do mundo dedicada exclusivamente ao segmento de moda praia, traduz a força do associativismo da região, com a geração de emprego e renda para a comunidade.

Mas, como ampliar o objetivo principal de um APL, para além da unificação de uma cadeia produtiva com atividades comuns? Mais do que promover melhores práticas de produção, o “aproveitamento da sinergia gerada pela participação dinâmica de diversos atores em arranjos e cadeias produtivas locais efetivamente fortalece as chances de sobrevivência e crescimento, particularmente das MPEs” (LASTRES e CASSIOLATO, 20O4). Desse modo, a probabilidade desse esforço coletivo e simultâneo acontecer, depende em grande medida do desenvolvimento de uma relação de confiança entre os atores envolvidos no processo - Organizações colaborativas, atores econômicos e outros parceiros, e também, singularmente, os atores locais. A integração dos elos da cadeia produtiva em razão da localização, favorece a otimização do uso de materiais, a gestão de resíduos, o desenvolvimento de fluxos contínuos de produção, e, sobretudo, as vocações regionais.

Imagem 2: Tempo de Mudança.

Como disse Peter Frase em seu livro Quatro Futuros, como as mudanças climáticas e a destruição ecológica são inevitáveis, a questão relevante nesse momento é a forma como uma resposta à crise será organizada. É hora de fazer as coisas de um modo radicalmente diferente. Planejar e replanejar. Colaborar para alcançar resultados que não seriam possíveis individualmente. É hora de se reinventar.

 

Referências

CASSIOLATO, L; LASTRES, H. O foco dos arranjos produtivos locais de micro e pequenas empresas. Rio de Janeiro: Relume & Dumará, 2003.

FRASE, P. Quatro Futuros: a vida após o capitalismo. São Paulo: Autonomia Literária, 2020.

 

Imagens: Karolina Rabowska no Pexels; Amélie Muricho e Elena Koycheva no Unsplash.


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