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COMO A ECONOMIA CIRCULAR PODE AJUDAR A PRESERVAR O MAIOR ECOSSISTEMA DO PLANETA?

Para encerrar a série Ecossistemas de Inovação, nada mais importante do que falar do maior ecossistema do planeta: a Amazônia. Em 5 de setembro foi celebrado o seu Dia, data instituída desde 2008, com o objetivo de advertir sobre a importância de preservar a maior reserva natural do planeta. Infelizmente, não há muitos motivos para comemorar. Somente este ano, de acordo com o Instituto Imazon, 1.606 km² de vegetação, área equivalente a extensão territorial da cidade de São Paulo, foram devastados, superando em 7% os dados registrados no mesmo período de 2020.

Na conferência digital GLF Amazônia: ponto de inflexão, parte da programação da Climate Week NYC , também ocorrida em setembro, foi discutido o que se pode subentender da devastação da Amazônia e as consequências para o meio ambiente, a sociedade e a economia, e também, como preservar e restaurar a diversidade biológica e cultural da região. Destacou-se a importância de valorizar os territórios, manter a floresta em pé, regenerar o solo e proteger as reservas. Em resumo, os debates trataram da “Geopolítica do Desmatamento Zero: oferta e demanda” e reflexões sobre iniciativas do setor privado e da sociedade civil na Agenda da Sustentabilidade.

Para a organização do evento, “os territórios na Amazônia exigem uma abordagem integrada, transfronteiriça e baseada em direitos para catalisar os esforços de restauração e conservação. O espaço deve ser criado para que grupos indígenas, comunidades locais e instituições se conectem a processos e tecnologias globais, a fim de combinar inovações e práticas tradicionais, equilibrar desenvolvimento e conservação, além de incorporar uma bioeconomia inclusiva, equitativa e sustentável nas paisagens da Amazônia” (GLF Amazônia, 2021).

O território e as territorialidades necessitam de conduções específicas. Nesse sentido, um desenvolvimento desejado e desejável para os atores, posicionados nas tramas dos seus lugares, precisa transformar a técnica em valor de uso e não apenas em formas de acumulação (Zaoual, 2006). Como disse Amartya Sen, “os comportamentos humanos, assim como os comportamentos econômicos possuem complexas relações com os seus ecossistemas”. Por isso, a estratégia de transpor um modelo de desenvolvimento sem as devidas adaptações, não é um caminho praticável. A Amazônia não é homogênea, há uma grande diversidade natural, e também social. Sendo assim, não existe uma alternativa única para o propósito comum de proteger a floresta.

Mas, como a economia circular pode ajudar nesse grande desafio? A bioeconomia circular é um conceito econômico que une as sinergias da economia circular e da bioeconomia. Enquanto que a economia circular tem como principais objetivos eliminar resíduos, manter produtos e materiais em uso e regenerar sistemas naturais, a bioeconomia tem como base a utilização de matérias-primas naturais e renováveis.

Imagem 1: Projeto Preta Terra.

Para o hub Preta Terra, “a agricultura de base florestal é a resposta mais plausível e simples para a maioria dos desafios climáticos e sociais enfrentados atualmente”.  Com o propósito de transformar a paisagem através da restauração produtiva, o hub desenvolve projetos de sistemas de produção agroflorestais regenerativos, a partir da combinação de dados científicos, informações empíricas, conhecimentos tradicionais e inovações tecnológicas, para construir um modelo produtivo que seja sustentável, resiliente e duradouro.

Imagem 2: As agroflorestas têm sido uma opção para pensar a regeneração de áreas desmatadas e a recuperação do solo.

O algodão cultivado em agrofloresta é uma das apostas para transformar a indústria têxtil. Esse método de produção pode fornecer uma fibra com redução de 58% de emissões de gases de efeito estufa, quando comparado com o cultivo do algodão convencional. Além disso, permite o cultivo de outras espécies secundárias de valor ecológico e econômico, e também apoia pequenos produtores, beneficiando a economia local. De acordo com o relatório “Fios da Moda – Perspectiva Sistêmica para a Circularidade”, produzido pelo Modefica, o algodão é a quarta cultura que mais consome agrotóxicos, cerca de 25% do total produzido. No Brasil, de todo agrotóxico consumido, 10% é aplicado nos sistemas de cultivo tradicional do algodão.

Em 2019, a FarFarm, empresa brasileira especializada em projetos de supply chain regenerativos, em parceria com a Preta Terra, desenvolveu um sistema agroflorestal focado na produção de algodão orgânico, no município de Montes Claros (MG). O projeto contribui com a construção de uma lógica de economia regenerativa em torno da indústria têxtil, e consequentemente, da indústria da moda. Salvaguardadas as adaptações necessárias ao contexto da Amazônia, esta pode ser uma alternativa viável, já que, as agroflorestas, de forma geral, têm sido uma opção para pensar a regeneração de áreas desmatadas e a recuperação do solo.

Imagem 3: O algodão cultivado em agrofloresta é uma das apostas para transformar a indústria têxtil.

Uma das principais pautas da COP 26 será a neutralidade de carbono. A Amazônia, antes considerada sumidouro de CO2, hoje, emite mais gás do que absorve, favorecendo um aumento significativo de emissões. O desmatamento e a degradação florestal podem impedir o Brasil de cumprir com os compromissos firmados no Acordo de Paris. Essa é a década da restauração de ecossistemas. A preservação da floresta é um grande desafio, e o seu destino estar diretamente relacionado com o equilíbrio do clima no planeta.  Cuidar da Amazônia hoje, significa cuida do amanhã de todos.

 

REFERÊNCIAS:

SEN, A. Desenvolvimento como liberdade. São Paulo: Companhia de Bolso, 2010.

ZAUOAL, H. Nova economia das iniciativas locais: uma introdução ao pensamento pó-global. Rio de Janeiro: DP&A: Consulado Geral da França: COPPE/UFRJ, 2006.

 

Imagens: Dieny Portinanni no Unsplash; Lukas no Pexels; Projeto Preta Terra; Tijana Drndarski no Pexels. 


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