COMO CONECTAR AS STARTUPS À INDÚSTRIA DA MODA?
Já na década de 1970, o escritor e futurista Alvin Tofler dizia que "os analfabetos do século XXI não serão aqueles que não conseguem ler ou escrever, mas aqueles que não conseguem aprender, desaprender e reaprender”. No momento presente, muitas empresas estão desaparecendo por continuarem a fazer a mesma coisa, da mesma forma. Inovação é uma das palavras-chave quando o assunto é se manter competitivo no mercado. Todavia, inovar e ser competitivo tiveram seus “significados” atualizados. O novo paradigma de inovação, para além do uso de novas tecnologias, está relacionado a novas formas de interação entre stakeholders, e a ideia de se manter competitivo, deixa de ver o outro como concorrente e passa a considerar o potencial de colaboração entre as empresas.
Os modelos de negócios tradicionais estão sendo desafiados a redesenhar seus produtos e seus processos de forma imediata, o que implica rever a cadeia de ponta a ponta. Mas, por que isso está acontecendo? Em razão de suas proporções, as grandes empresas têm mais dificuldade em se adaptar às mudanças de comportamento do consumidor, tal como, ao surgimento de novas tecnologias. Um dos principais casos que ilustra essa situação é o da empresa Kodak que, mesmo sendo considerada uma empresa inovadora na época, sucumbiu diante da disseminação das imagens digitais perdendo toda sua fatia de mercado.
As startups têm saído na frente quando o assunto é inovação, mas um dos grandes dilemas é como escalar essa capacidade de inovar. Com negócios disruptivos capazes de transformar toda a cadeia de produção, essas novas empresas têm buscado parcerias para exponenciar seus projetos. Tem-se falado muito por aqui na construção de modelos de negócios baseados na economia circular, o que indica a necessidade de adotar uma visão holística não apenas sobre os processos e produtos, mas também no estabelecimento de novas formas de parceria entre os atores envolvidos. Numa perspectiva renovada da economia colaborativa, o uso das novas tecnologias é importante, mas torna-se uma questão secundária e o crucial passa a ser pensar nos espaços de intermediação. Mas, como pensar em um jogo entre startups e grandes players? Por que e como trabalhar com os empreendedores de maneira consistente?
Imagem 1: Aprender com o compartilhamento de experiências.
O conceito de ecossistemas de inovação propõe justamente a associação de empresas de diferentes portes, e até mesmo segmentos, para formar arranjos produtivos e trabalhar de forma colaborativa através de um esforço coletivo e simultâneo. Nesse modelo, borram-se as fronteiras das empresas que agora se abrem aos novos mercados ampliando a sua cadeia de valor por meio da circularidade. Nas empresas do futuro todos têm que inovar, mas é preciso olhar para além do seu próprio time. Isso porque, as articulações permitem inovar de forma mais célere e testar novos modelos de negócios com mais dinamismo. Para que isso aconteça de forma exitosa é preciso aprender, observando as startups e lançando-se no desafio de tentar algo novo; inovar, trabalhando sobre várias conexões ao mesmo tempo para entender quais as parcerias que fazem mais sentido; e investir, participando dessas pequenas empresas, absorvendo suas equipes, aplicando capital financeiro etc.
Nesse contexto, a associação entre a economia circular e a economia da funcionalidade e cooperação é extremamente interessante porque considera a perspectiva territorial. Isso equivale a conceber, produzir e valorizar soluções que integram bens e serviços, com base na emergência de ecossistemas cooperativos portadores de soluções destinadas a responder desafios da sociedade, e do meio ambiente, percebidos num plano local. A cooperação vinculada às vocações de uma região pode combinar diferentes sistemas através de uma nova dinâmica.
Essa transformação de modelo econômico demanda um percurso cuja distância ainda não se pode definir com precisão. O fundamental é começar por alguma via até que se alcance a maturidade a partir da transformação da inovação em resultado real. Vender mais produtos para aumentar o faturamento já não tem razão de ser diante da complexidade dos novos tempos. Mas, por onde começar? Antes de tudo, tem de se definir a estratégia de inovação e principiar a interação com as startups e empreendedores de moda. Cautela é importante, contudo, tem de aprender fazendo junto. Não há tempo para procurar o modelo perfeito e definitivo, o momento é de experimentação.
Imagem 2: Parceria é o nome do jogo.
A inovação tecnológica sozinha não significa muita coisa. Depende do local, de regras, das condições de cada empresa, e ainda, do território no qual o ecossistema estará inserido, passando a ser considerada uma questão secundária. Nesta hora, o compartilhamento de experiências torna-se estratégico e coloca a colaboração no centro da inovação. Já diria Pierre Lévi, “ninguém sozinho é melhor que todos juntos”. Parceria é o nome do jogo!
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