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ECOSSISTEMAS DE INOVAÇÃO, A ECONOMIA CIRCULAR COMO PENSAMENTO INSTRUMENTAL

Na natureza, um ecossistema pode ser entendido como o conjunto formado pelas interações entre as comunidades vivas e os fatores não vivos do ambiente. Um agrupamento de características físicas, químicas e biológicas que influenciam a existência das espécies que interagem entre si, formando um sistema estável. As interrelações que existem entre os vários tipos de “consumidores” formam uma cadeia alimentar, onde os consumidores primários, se alimentam dos produtores; os secundários, se alimentam dos primários; os terciários, estão no topo da cadeia; e os decompositores, são responsáveis pela decomposição da matéria orgânica, transformando-a em nutrientes minerais que estarão novamente disponíveis no ambiente. Dentro de um ecossistema, a alteração de um único elemento do grupo pode causar modificações em todo o conjunto.

Quando se fala em um modelo de produção circular esse tipo de correspondência ajuda a pensar em como mudar a forma pela qual se produz e como se utiliza os recursos naturais. Se uma empresa “terciária” se conecta com outras “secundárias” que se adéquem às suas atividades, assim como os fungos que ajudam as árvores a multiplicar sua superfície de raiz e a captar muito mais água e nutrientes, ela amplia sua capacidade de fazer melhor uso dos recursos em comparação com uma empresa que atue isoladamente, apenas com as suas próprias raízes. Desde que a relação seja benéfica para todas as partes interessadas, esse ecossistema pode viver em parceria por um longo tempo tipificando uma simbiose industrial.

O conceito de simbiose industrial pode ser entendido como a otimização dos fluxos residuais objetivando o reaproveitamento da matéria-prima em outros processos produtivos. Essa prática é uma forma de minimizar os impactos causados pela geração de resíduos sólidos, e quando desempenhada de forma estruturada entre diferentes atores (academia, iniciativa privada e governo) ampliam as vantagens econômicas, sociais e ambientais. Muitas empresas não veem o benefício da colaboração através da troca de produtos e de informações, sobretudo quando se trata de concorrentes, entretanto, a abordagem coletiva e as possibilidades simultâneas resultantes dessa sinergia podem levar a vantagens competitivas como a redução de custos com material, com logística e com a destinação adequada do resíduo gerado.

Mas, quais são os pontos orientadores para a formação de um ecossistema industrial? A economia circular é um tema transversal e tem compreensão estruturadora abrangente. Com a característica de integrar ações, seus princípios podem gerar benefícios para fomentar esse contexto e ampliar a concepção de colaboração, ao mesmo tempo que as práticas de simbiose industrial também vão de encontro aos objetivos do modelo de produção circular.

Imagem 1: Colaboração

Pensar em arranjos produtivos constituídos pelo setor de moda e diferentes indústrias, não necessariamente próximas, mas trabalhando de forma estreita, significa, de forma macro, o aumento da resiliência dos sistemas, o crescimento econômico e de empregos e a ampliação do potencial de uso dos recursos; e, de forma micro, a redução do custo da produção, a geração de novas fontes de receita, o aumento do relacionamento entre os atores envolvidos, e ainda, da resiliência das organizações. O potencial para inovações sociotécnicas que pode surgir desses arranjos abre espaço para o desenvolvimento de ciclos produtivos infinitos, disseminando uma cultura de sustentabilidade ao longo da cadeia de valor.

Articular ideias e áreas distintas com o pensamento de circularidade contribui para um fluxo de recursos renováveis, entretanto, não basta ajudar uns aos outros para sobreviver nessa interação. Como nos ecossistemas da natureza, cada um é responsável pelos seus processos, e por isso, os produtos transversais gerados dessa simbiose também precisam apesentar um caráter circular para alavancar o desenvolvimento sustentável.

Imagem 2: Interdependência

A visão compartilhada de onde se quer chegar ajuda a estabelecer uma perspectiva comum para orientar a transição dos modelos atuais de produção. A necessidade de desenvolver um entendimento horizontal da economia circular cria um ambiente mais propício para a sua implantação e a partir de ecossistemas de fornecimento colaborativo é possível coordenar o arcabouço da mudança com sistemas circulares para projetar, produzir, vender e coletar produtos.

Como parte desse ecossistema de inovação, os grandes players precisam estar dispostos a fazer parcerias com as diversas micro e pequenas empresas para criar uma rede de troca de “nutrientes”, e também, de informações, e a partir daí trabalhar em parceria. As micro e pequenas empresas funcionariam como um hub de conexão entre as grandes empresas, e essa ligação se faria necessária para a existência de ambas, as primeiras dependendo dos nutrientes das segundas, e da mesma forma, estas utilizando os serviços das outras.

Como disse Janine Benyus em seu livro Biomimética: inovação inspirada na natureza, “quanto mais o nosso mundo se parecer com a natureza e funcionar como ela, mais probabilidade teremos de ser aceitos nesse lar que é nosso, mas não exclusivamente nosso”.

 

Imagens: Miguel Á. Padriñán no Pexels; rawpixel.com no Unsplash; Adam Borkowski no Pexels.

 

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