A ECONOMIA CIRCULAR É UM DOS PILARES PARA SE CONSTRUIR UMA ECONOMIA DE BAIXO CARBONO
Terminou a COP26 em Glasgow. Certamente, esta foi a mais importante Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima tendo em vista a atual crise planetária. Os acordos que foram firmados entre os países irão definir o rumo a ser seguido nas próximas décadas. Entre as principais metas estabelecidas pela cúpula, talvez, a mais importante delas, ou melhor, a basilar, seja a que estabelece a necessidade de trabalhar em conjunto para combater as mudanças climáticas. Mas, não é suficiente anunciar metas. Vale lembrar que o fim da COP é apenas o começo, ou melhor, um recomeço. Mais uma chance de fazer diferente, pois ainda existe um longo caminho a ser percorrido e cada um deve reconhecer a sua responsabilidade.
E a indústria da moda, como pode assumir a tarefa de atingir emissões líquidas zero até 2050? É preciso repensar completamente toda a dinâmica da cadeia produtiva têxtil e de vestuário. Criar transparência, de ponta a ponta, deve ser a premissa. Impulsionar a descarbonização; trabalhar com base na cooperação; acelerar a adoção de fontes de energia renovável; reduzir o estoque excedente; projetar e produzir de forma circular, também devem ser proposições consideradas.
Em discurso na COP26, Sérgio Motta, diretor executivo do SENAI CETIQT, falou sobre o NuSEC - Núcleo de Sustentabilidade e Economia Circular -, fruto de uma parceria entre o SENAI CETIQT e a ABIT, criado com o intuito de desenvolver soluções que promovam a sustentabilidade e a economia circular como estratégia central para os negócios, através de geração de conhecimento e avaliação de dados sobre a indústria têxtil e de confecção brasileira. Ele também destacou o fato de o Brasil possuir a Cadeia Têxtil mais completa do Ocidente, o que torna o processo de transição um pouco menos complexo.
A economia circular é um dos pilares para se construir uma economia de baixo carbono. No entanto, é importante ponderar que nem sempre circular significa ser sustentável. Segundo a pesquisadora Catherine Weetman, as iniciativas circulares podem facilmente repercutir em ainda mais consumo e desperdício. Mesmo sendo considerada a melhor ferramenta disponível para projetar outros sistemas, a economia circular, se não for vista por um prisma ampliado, pode resultar em soluções que não melhoram a sustentabilidade, e ainda, podem causar impactos negativos. Por isso, todas as externalidades devem ser consideradas, ou seja, todos os efeitos sociais, econômicos e ambientais.
Os modelos de negócios com base na economia circular oferecem um caminho tangível para alcançar os objetivos climáticos coletivos, combatendo as emissões vinculadas à extração, processamento e fabricação de produtos. Uma das iniciativas que contribuem para a circularidade dos negócios é a reinserção do resíduo ao processo produtivo na forma de insumo. Como acontece nos ecossistemas naturais, o que não serve mais para um, torna-se nutriente para outros. Desse modo, a economia circular elimina totalmente o conceito de desperdício e abre espaço para repensar os processos com o objetivo de manter os recursos em uso e gerar valor, criando uma dinâmica positiva.
O ponto de inflexão foi alcançado. O mundo está diferente e o momento é decisivo. Para resolver essa crise, que é interconectada, é preciso encontrar maneiras de regenerar o que foi destruído. O consumo excessivo e efêmero de roupas amplia exponencialmente o desperdício têxtil em todo o mundo. De acordo com o Forum Economic World, 148 milhões de toneladas de roupas serão descartadas a cada ano até 2030. Adotar soluções de moda circular, mantém os materiais distantes dos aterros e reduz o uso de recursos inexplorados. Priorizar o uso de materiais naturais e reciclados, restaurar os ecossistemas, preservar a biodiversidade, conectar a cadeia de suprimentos, tudo isso deve estar implícito no projeto.
Para alcançar uma economia de baixo carbono é preciso passar pela economia circular. Ao seguir esse caminho, os negócios criam valor econômico, constroem resiliência local e estimulam a inovação. Novos produtos, novos processos, novos targets. O desafio agora é implementar as mudanças para um mundo melhor. O caminho para a sustentabilidade não deve ser visto como um empecilho, e sim como uma oportunidade.
Imagens: Nadine Sky no Pexels;