A TRANSPARÊNCIA É A BASE DA MODA CIRCULAR
Muitos olhares têm se voltado para a indústria da moda quando o assunto é sustentabilidade, e um dos principais fundamentos de uma moda sustentável é a transparência. Com uma cadeia de suprimentos altamente fragmentada e com múltiplas camadas de fornecedores, a rastreabilidade torna-se um desafio, mas também, uma janela de grandes oportunidades. No modelo de produção atual, praticamente não há articulação entre os atores da cadeia de fornecimento. Essa falta de conexão impede que todas as externalidades negativas sejam consideradas, e que, cada fornecedor reconheça, e comprometa-se com suas respectivas responsabilidades. Entretanto, ainda que este seja o cenário predominante, algumas empresas já começaram a praticar a transparência e estão percebendo que a adoção de novas práticas pode trazer muitas vantagens para os negócios.
Os hábitos de consumo têm mudado nos últimos anos, e, mesmo que ainda não sejam os principais critérios de decisão de compra, verifica-se um aumento no interesse do consumidor em adquirir produtos ambientalmente responsáveis e certificados. Esse novo comportamento requer que as empresas compartilhem informações sobre cada etapa do desenvolvimento do produto, e, para que isso aconteça, como foi explicado no post A moda agora é ser transparente, é necessário fazer uso da tecnologia do Blockchain, que permite a interconexão entre os diferentes estágios da cadeia.
A tecnologia do Blockchain é um sistema de identificação global que pode conectar produtos, clientes e parceiros em todo o ciclo de vida do produto, além de fornecer acesso a informações confiáveis sobre como são projetados, fabricados e distribuídos. Os produtos recebem uma identificação digital com informações sobre todas as etapas de produção, tornando o processo transparente.
Imagem 1: O QR Code permite que o consumidor acesse as informações sobre o produto.
Plataformas digitais oferecem soluções para a rastreabilidade de produtos e a transparência na cadeia de suprimentos. Através da coalizão dos stakeholders é possível criar ecossistemas de rastreabilidade e desenvolver soluções de compreensão global para troca de dados e conhecimento. Os sistemas de identificação digital podem ser projetados para informar aos consumidores as credenciais de sustentabilidade das roupas, por meio do desenvolvimento da verificabilidade em torno do que pode ser considerado um produto de moda sustentável.
Diferentes ferramentas de monitoramento e avaliação estão sendo usadas atualmente por diversas empresas da indústria têxtil e de vestuário. A Abrapa, Associação Brasileira dos Produtores de Algodão, através do Sistema Abrapa de Identificação (SAI), criado em 2004, permite identificar e rastrear a origem do algodão através de uma etiqueta com dados sobre o cultivo e o processo de beneficiamento das algodoeiras de diferentes regiões do Brasil. Este ano, a associação foi além e lançou o programa SouABR, em parceria com grandes players da indústria da moda brasileira, que assegura o rastreamento da peça de roupa desde o plantio do algodão certificado até a venda do produto final. Para adquirir a certificação da fibra, 178 itens são avaliados.
Imagem 2: A tecnologia Blockchain permite identificar e rastrear a origem do algodão.
Outra iniciativa interessante, que envolve a última etapa da cadeia de produção do vestuário, é o Instituto Alinha. Criado em 2014, o Alinha é uma plataforma digital que trabalha assessorando empreendedores de pequenas confecções a regularizarem seus negócios, e os conecta com marcas e estilistas interessados em garantir preços e prazos justos para os trabalhadores. Os signatários da plataforma têm acesso às confecções de costura, e também, a um sistema de gerenciamento através da tecnologia Blockchain.
A edição 2021 do Índice de Transparência da Moda Brasil, produzido pela Fashion Revolution, analisou 50 grandes marcas e varejistas do mercado brasileiro, classificando-as de acordo com a quantidade de informações que disponibilizam sobre suas políticas, práticas, e impactos sociais e ambientais. A C&A e a Malwee foram consideradas as marcas mais transparentes no setor de moda brasileiro, com índices de 70% e 66%, respectivamente, acompanhadas da Renner, com 57%. A avaliação considera mais de 200 indicadores.
Escalar a circularidade está diretamente relacionada ao avanço da transparência na cadeia de fornecimento. As cadeias de suprimentos circulares ajudam a desenvolver abordagens de ecossistemas industriais que permitem que as partes envolvidas compartilhem tecnologia e recuperem o valor do produto. Ao mesmo tempo, a transparência cria redes de abastecimento ambientalmente saudáveis e sustentáveis, usando métodos de produção mais limpos, minimizando a geração de resíduos e a emissão de gases de efeito estufa. A transparência é a base da moda circular.
Imagens: Shubhan Dhage; arif ubayy e Marianne Krohn no Unsplash.