O frio atípico que tem ocorrido em algumas regiões do Brasil foi um dos assuntos mais comentados nas últimas semanas. Ao mesmo tempo, as ondas de calor na Grécia, Canadá, Estados Unidos, Dinamarca e México, tal como, as inundações que aconteceram na China e na Alemanha, também foram destaque. Essas mudanças são um alerta para a situação de crise climática que o planeta está enfrentando. O novo Relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU, divulgado no último dia 9, aponta que o aquecimento global sem precedentes tem clara influência humana. Ainda de acordo com o estudo, o nível de emissões futuras determinará o nível de aumento de temperatura e a gravidade das mudanças climáticas nas próximas décadas. Ou seja, o porvir vai depender das ações de agora.

De uma forma geral, os modos de produção e consumo atuais, pautados na extração de recursos, uso e descarte, estão intrinsecamente relacionados a esse colapso. Um dos caminhos para o enfrentamento desse problema é mudar para um modelo de produção circular, que dentro desse panorama significa entender que a preservação do meio ambiente está sujeita a um envolvimento individual e coletivo para traçar possíveis caminhos em direção à mudança, que é impostergável.

Um ecossistema industrial, na perspectiva da ecologia industrial, expressa um sistema econômico em que os consumos de energia e materiais são otimizados e integrados entre diferentes indústrias, e os resíduos de um processo tornam-se matéria-prima para outros ciclos produtivos, assim como acontece nos ecossistemas naturais. Essa concepção incentiva o desenvolvimento de uma simbiose, ou seja, uma relação entre diferentes “organismos”, neste caso, empresas, com benefícios recíprocos. Os diferentes mecanismos de cooperação industrial são flexíveis e estão sujeitos à localização, aos tipos de indústrias envolvidas, matérias-primas etc. Cada circunstância resultará em grupamentos com características específicas.

Imagem 1: Relacionamento e Reciprocidade.

Os Arranjos Produtivos Locais (APLs) são aglomerações de empresas e empreendimentos, localizadas em um mesmo território, que apresentam especialização produtiva, algum tipo de governança e mantêm vínculos de articulação, interação, cooperação e aprendizagem entre si e com outros atores locais, tais como: governo, associações empresariais, instituições de crédito, ensino e pesquisa (MINISTÉRIO DA ECONOMIA, 2021). Os APLs são um exemplo de modelo de negócio coletivo para o reaproveitamento e intercâmbio de recursos, através das relações de articulação, interação e cooperação em uma cadeia produtiva comum. Podem envolver desde produtoras de bens e serviços finais até fornecedoras de insumos e equipamentos, prestadoras de consultoria e serviços, comercializadoras, clientes, entre outros.

O principal objetivo de um APL é unificar a cadeia produtiva com atividades comuns, buscando o desenvolvimento das empresas, por meio de ações conjuntas e cooperadas. Um case interessante é a marca coletiva “Vale das Toalhas”, constituída por 21 empresas do segmento, lançada em maio deste ano, como resultado da ação do “Núcleo de Fabricantes de Toalhas – NFTex” do Vale do Itajaí, sul do Brasil. Em conjunto, as empresas investiram em P&DI para adquirir equipamentos mais modernos e estabelecer novas conexões com fornecedores nacionais. O coordenador, Taciano Petermann, destaca que o objetivo da atuação do Núcleo é melhorar as chances de sobrevivência das empresas a longo prazo e manter a continuidade dos negócios com baixo impacto ambiental. Além disso, o grupo fortalece a vocação da região, que é responsável pela fabricação de 70 a 80% de toda a produção nacional, e cujo parque fabril, de acordo com o coordenador, é o mais moderno do país na fabricação de toalhas.

Grupos com sistemas produtivos e inovativos locais, como a NFTex, impulsionam articulações e vínculos consistentes que resultam em interação, cooperação e aprendizagem, com potencial de gerar o incremento da capacidade interna de inovação, da competitividade e do desenvolvimento local. Esse associativismo é dirigido pela busca do bem comum, com foco em dissipar o isolamento das empresas. O núcleo identifica as necessidades dos participantes, compartilha informações e experiências, promove treinamentos e consultorias, e negocia com fornecedores e clientes.

Redes de arranjos produtivos locais, associados a cadeias produtivas estratégicas capazes de promover a inclusão produtiva e o desenvolvimento sustentável podem formar rotas de desenvolvimento. Para isso, as atividades devem contribuir para o encadeamento produtivo entre fornecedores, prestadores de serviços, produtores, processadores e consumidores, fortalecendo a malha produtiva e a cooperação intersetorial, através da cooperação vinculada às vocações de uma região.

Imagem 2: Vocações Regionais

Os ecossistemas de inovação são uma oportunidade de pensar em melhores processos, produtos e serviços. E, de acordo com a Confederação Nacional da Indústria - CNI, a promoção da simbiose industrial e de novos modelos de negócios, é uma das agendas relacionadas à transição da lógica linear para a circular. Os arranjos produtivos locais são uma forma de fortalecer a cadeia produtiva, com a recuperação dos resíduos e otimizar o uso de recursos hídricos e energéticos.

Algumas mudanças na superfície do globo, provocadas pela ação humana, são irrefutáveis e irreversíveis. Entretanto, ainda há tempo de reparar e evitar outros impactos. A sustentabilidade dos processos produtivos é uma prioridade. Repensar seu modelo de negócio não é mais uma opção, e para garantir a sobrevivência individual, o pensamento e a ação precisam ser coletivos.

Imagens: Los Muertos Crew no Pexels; Artem Podrez no Pexels.