Termina mais um ano, e esse é sempre um período de fechamento. Mas, nessa caminhada em direção a construção de um novo ciclo para a indústria da moda, esse é o momento de pensar em fechamento de ciclos, mas também de abertura. Abertura para novas possibilidades, novas articulações, novos modelos de negócios. Todos, em todas as áreas de atuação, estão sendo desafiados a reconsiderar suas práticas profissionais, e pessoais, de forma a alcançar o propósito universal de remediar o impacto da forma de vida contemporânea.  

A COP 26 foi um ultimato definitivo de que é preciso uma mudança de grandes proporções para que seja possível manter o aumento da temperatura do planeta em até 1,5°C, tarefa que, segundo especialistas, já é considerada improvável, mas, de qualquer forma, é preciso seguir com a intenção de se aproximar ao máximo dessa meta. As nações, cada uma a seu modo, firmaram o compromisso de zerar as emissões líquidas até 2050. Nesse acordo, a indústria da moda, como um grande player, tem um papel determinante, não só pelo volume de produção, mas, principalmente, pela capacidade de influenciar comportamentos.

Por isso, hoje é o dia de compartilhar as ações realizadas pelo Projeto Moda Circular em 2021 fazendo uma retrospectiva dos conteúdos publicados na plataforma Inova Moda Digital - IMD., que tem como objetivo assessorar as empresas no processo de transição dos seus modelos de negócio; das lives realizadas no canal do SENAI CETIQT,  com iniciativas que estão liderando esse movimento e que são importantes benchmarks para àquelas que ainda estão na fase inicial de maturidade circular; e, contar um pouco sobre o planejamento das novas ações do projeto previstas para 2022.

A economia circular, derivada de diferentes escolas de pensamento - economia de serviços/desempenho, capitalismo natural, economia azul, cradle to cradle e ecologia industrial -, é resultado da evolução de um conjunto de conhecimentos que surgem a partir da expansão de novos conceitos para modelos de negócios sustentáveis. Por esse motivo, não há uma definição única para o que é economia circular, e isso gera muitas dúvidas. A produção de conteúdo semanal na plataforma IMD., tem justamente o objetivo de balizar esse conhecimento e traduzi-lo para a indústria da moda.

Ao longo deste ano as nossas publicações versaram sobre estratégias de design para a circularidade, discutindo alternativas para prolongar o uso das peças, o uso de materiais alternativos, e o design para a reciclagem; sobre o futuro do trabalho, destacando as novas habilidades requeridas frente a automação das fábricas, as novas ocupações decorrentes de novos modelos de negócio, e a importância de desenvolver talentos; sobre ecossistemas de inovação, revisitando o conceito de competitividade e a noção de colaboração, como a circularidade pode criar valor a partir de modelos de negócios coletivos, e como as boas práticas de ESG é transversal à economia circular; sobre a COP 26, falando do compromisso da moda e como ela pode ajudar a combater as mudanças climáticas; e ainda, sobre a importância de promover a transparência, discorrendo sobre tecnologias capacitadoras, e o rastreamento da cadeia de suprimentos etc.

As lives, que acontecem quinzenalmente, da mesma forma, desempenharam um papel fundamental nessa caminhada. O compartilhamento da experiência das empresas parceiras, representam a materialização das oportunidades que surgem da transição de um modelo de produção linear para um modelo circular, contribuindo para despertar, em outras empresas, uma nova percepção de valor. Essa troca também propicia um olhar de renovação para o produto, e para o ciclo da moda. É um convite para refletir qual é o papel da sua marca na sociedade e como ela contribui para a mudança. Um convite para pensar na forma de estar no mundo.

É com essa sinergia que, em 2022, o Projeto Moda Circular está preparando novidades para continuar inspirando as empresas nesse processo de transformação. A plataforma IMD. estará com um novo layout para aprimorar a experiência do usuário, serão publicados teasers com a temática de circularidade, ferramentas de avaliação de maturidade circular estarão disponíveis para que cada empresa entenda em que nível está e quais serão seus passos seguintes, haverá a publicação de relatórios sobre as oportunidades e desafios da indústria da moda brasileira na transição para um modelo de produção e consumo circular e sobre como conectar e escalar iniciativas de impacto transformacional, e ainda, a divulgação do Desafio Moda Circular, uma imersão criativa nacional para solução de produtos e/ou processos que apoiam a transição, entre outras coisas.

A circularidade é sobre conectar. Sobre unir-se através de uma conexão, de um propósito, e está relacionada a um movimento contínuo de articulação. Foi perguntado, aos convidados que participaram dos bate-papos, como, na visão deles, a moda circular conecta. Para Margarida Lunetta, da Laudes Foundation, “a transição para a economia circular exige uma maior conexão entre os elos da cadeia de suprimentos. E além de serem conexões mais qualificadas e inovadoras, o que por si só tem potencial de gerar alto nível de engajamento e conectividade, devem também despertar oportunidades de conexões entre diferentes cadeias produtivas de forma sistêmica, garantindo a manutenção de produtos e serviços ao invés da sua frequente e excessiva descartabilidade”. Para ela, “acima de tudo, a economia circular nos conecta com novas ideias e percepções de produção e consumo”.

Larissa Roviezzo, da Regenerate, complementa bem esse pensamento dizendo que “a moda circular conecta através da mudança sistêmica, onde redefinimos a relação entre economia, sociedade e natureza. Juntos buscamos um modelo de negócio que separa o crescimento econômico do esgotamento dos recursos naturais e reconcilia a prosperidade econômica com a prudência ambiental”. Ao mesmo tempo, Silvio Moraes, da Textile Exchange, destaca que “é fácil perceber a situação crítica em que vivemos e as consequências dos modos de produção e de consumo que nossa sociedade adotou até aqui”, e conclui dizendo o quão é “evidente que nosso futuro depende de uma mudança urgente”. 

A circularidade, definitivamente, está na ordem do dia, e é fundamental agir rápido para um desenvolvimento progressivo. Pensar em melhores soluções, em novos processos, e em como eliminar desafios. O momento pede urgência. Para finalizar, a fala do Gilberto Campana, da Lenzing, representa muito bem essa atmosfera, "a moda circular nos conecta à sustentabilidade, que nos conecta à nossa vida e a do planeta". Já se sabe o "porque" é importante a transição para uma moda circular, agora é preciso colocar em prática o “como”, para trilhar esse novo ciclo. O futuro da moda é circular.

Imagens: Becca Tapert no Unsplash