COTTAGECORE- A LEVEZA DE UM MOVIMENTO ESTÉTICO QUE SE ESPALHOU DURANTE A PANDEMIA
“Volte para a natureza, viva na floresta, antes que a levem embora” - John Williamson
Para muitos que vivem nas cidades, a ideia de viver em paz sozinho e longe do burburinho sempre foi em grande parte aspiracional. Agora, essa vontade de fugir para as montanhas, ganhou força pelo enorme desejo de sair do confinamento.
Cottagecore (farmcore ou countrycore) é um movimento emergente, que tem sido entendido como uma subcultura, e reúne todas as melhores partes de viver em uma cabana na floresta como cultivar plantas, criar animais, bordar, costurar ou assar pão. Diferentemente de estilos similares, destaca-se pela curadoria meticulosa dos objetos e produtos, seja de uso pessoal ou de decoração. É um vislumbre de uma existência simples onde a fruta está sempre fresca, o ar está sempre limpo e os dispositivos móveis sempre no “modo avião”. Uma forma de acalmar os nervos sempre hiperestimulados.
A crescente comunidade, que já ganhou destaque em diferentes mídias e plataformas como a I-D.vice e DazedDigital, foi definida pelo New York Times como um ethos calmo e acolhedor em meio a um momento febril, tem suas bases num movimento lento, que se concentra no aconchego, gentileza, sustentabilidade e natureza. A onda nostálgica, ganhou força online em janeiro deste ano (Google Trends), e explodiu no Tumblr em março quando o distanciamento social se intensificou, e tem sido considerada como o antídoto ideal para a nossa atual frenética existência, já que reduz a ansiedade.
Recentemente, o cottagecore chegou ao mainstream verificado pelo boom em plataformas como TikTok, Instagram, Reddit e Tumblr, que registrou um aumento maciço no engajamento com o conteúdo do cottagecore, em posts (+153%), curtidas (+ 541%) e reblogs (+644%). Se você acessou o TikTok recentemente, provavelmente também já deve ter visto que as tags #cottagecore ou #farmcore estão super em alta, principalmente entre os adolescentes e as comunidades LGBTQIA+, já que a ambientação retrata um espaço mais seguro e inclusivo e também oferece uma visão de bem-aventurança doméstica sem a servidão na estrutura binária tradicional. Seu crescimento também está associado ao aumento considerável da procura por tutoriais DIY em sites e mídias sociais durante a pandemia.
Para entrar no clima, antes de continuar a leitura, busque pela playlist “Cottagecore” no Spotify e assista o vídeo abaixo:
Cottagecore e a moda do Verão 2020
Conforme havíamos antecipado, essa tendência que esteve presente no relatório IMD Verão 20_21/Regeneração e se estendeu para o Inverno 21/Antídotos, é envolta numa estética calma e acolhedora e tem se destacado não apenas nas mídias sociais, mas também nos hábitos de compra, já que faz todo sentido que pessoas busquem o conforto e a familiaridade quando as coisas parecem caóticas e descontroladas, e sintam a necessidade de reavaliar as coisas importantes e consideradas essenciais para o seu bem-estar.
Embora o cottagecore tenha começado a surgir antes da pandemia ,devido a eco ansiedade e a outros fatores sociais angustiantes, parece que agora o momento é especialmente relevante e reconfortante para sonhar em fugir para uma cabana na floresta coberta de vegetação, talvez com um cervo ou uma fada mágica como um vizinho amigável.
Na moda, em especial, essa estética tem sido reintroduzida desde de 2018, quando a marca indie Batsheva se popularizou na internet com seus vestidos campestres; mas foi a partir de 2020, que os criativos optaram por trabalhar num ritmo mais reflexivo e tranquilo em suas criações. Segundo a TeenVogue, designers como Markarian, Tory Burch,, Jonathan Simkhai e Kate Spade New York foram particularmente experimentais ao optarem por elementos artesanais associados como crochê e gravuras artesanais para a primavera/verão 2020. O máxi xadrez, uma padronagem clássica associada à vida na fazenda e ao piquenique, foi visto em coleções de Ulla Johnson e Sandy Liang. Detalhe: o vestido abaixo da marca Kitri Studio tem, nada mais, nada menos, que uma lista de espera de 600 pessoas. Em vez de se concentrar mais em um guarda-roupa de férias, o foco da coleção foi de atender o desejo de sentir-se confortável em casa,e fazer com que o usuário se sentisse especial durante esses momentos difíceis.
Antítese das e-girls, com seu brilho ácido e visuais que dominaram as mídias sociais em 2019 e, representando um mundo idílico e bucólico, livre do pavor iminente de mudanças climáticas e destruição ambiental, a estética ressurge com itens essenciais como: vestidos e saias longas, florais, babados, xadrezes, lencinhos na cabeça, mangas vantajosas (puff), jardineiras, chapéus de palha,espartilhos de renda com decote em coração, usados com botas (pode acreditar), rasteirinhas ou tamancos, em cores lavadas e muito branco. Interferências artesanais, como tricô e crochê, confirmam a ressignificação de um cenário no melhor estilo Laura Ashley que remonta a um tempo bem anterior às mídias sociais, como o final da década de 1960 até meados da década de 1970.
@loveshackfancy @spell
Parece que esse assunto é algo mais profundo em direção a um movimento lento e de maiores proporções, em que todos precisamos reavaliar e conversar sobre as coisas importantes e consideradas essenciais para o nosso bem-estar.
Inspire-se nessas sugestões de filmes e séries:
- Anne with E (Netflix)
- Little Women (Adoráveis Mulheres)
- Stardust , O Mi´stério da Estrela
- Moonrise Kingdom
- Orgulho e Preconceito (1995)
- Downton Abbey (série)