ESTRATÉGIAS DE DESIGN PARA CIRCULARIDADE – PROJETAR PARA DURAR
Dados do relatório Possibilidades para a Moda Circular no Brasil - Padrões de Consumo, Uso e Descarte de Roupas, da plataforma Modefica, revelam que para 80% dos inqueridos, a “substituição” é a principal motivação para a compra de novos itens de vestuário. Esse comportamento, decorrente da profusão de “novidades” da fast fashion, colabora com o descarte prematuro de itens que ainda poderiam ser usados. Uma das formas de impulsionar o movimento de padrões de consumo mais lentos é através do design de produtos duráveis. Todavia, é importante considerar que as expectativas com relação a durabilidade podem variar. Enquanto para algumas pessoas uma roupa sob medida representa longevidade, outras irão atribuir essa característica ao material que é utilizado para confeccionar a peça, como por exemplo, uma calça jeans. Mas afinal, como tornar uma peça de vestuário mais durável?
Na moda, a durabilidade pode ser obtida de formas diferentes, seja através de um conceito atemporal, seja por meio do uso de materiais de qualidade, ou ainda, através do incentivo aos bons cuidados e manutenção durante a etapa de uso da peça. Muitas vezes, é a combinação das abordagens que vai criar condições para que a roupa possa ter o seu ciclo de vida ampliado. A etapa de projeto é o momento de elaborar e definir os critérios de adaptação da peça, que podem tanto ser de caráter temporário, quanto permanente. Não existe um caminho único, é possível pensar a partir de múltiplas perspectivas.
Imagem 1 - Criação de produtos modulares e reversíveis.
O conceito atemporal privilegia cortes básicos e cores neutras, e também, evita tendências efêmeras. Nessa abordagem é possível recorrer a diversas estratégias, como a criação de peças multifuncionais ou modulares, reversíveis ou que possam ser transformadas. Peças que transitem entre as estações e que possam ser usadas de acordo com a necessidade do usuário, evitando o excesso de produção. Essa é a filosofia da Elementum, marca de moda sustentável que projeta roupas para durar por um longo período. Seus designs são atemporais e multifuncionais, adaptando-se a diferentes contextos.
Com o objetivo de transformar todos os seus projetos em padrões zero waste, a Elementum produz malhas sem costura, utiliza técnicas de modelagem com redução de cortes e reutiliza os resíduos da produção em outros projetos. Os tecidos são produzidos com fibras de menor impacto e adquiridos de fornecedores locais ou de regiões adjacentes. Outro aspecto interessante é que a marca prioriza o uso de têxteis monofibra, ou seja, sem mistura de matéria-prima, o que facilita o processo de reciclagem pós-consumo.
Imagem 2 - Serviço de reforma ou conserto.
Pensar na durabilidade envolve também pensar em como adiar a necessidade de conserto e em como facilitar os processos de reparo. Nesse sentido, usar tecidos e aviamentos de qualidade representa outra alternativa para prolongar a vida útil das peças de vestuário. A solidez a cor, resistência à tração e resistência ao pilling etc. são alguns atributos que indicam a durabilidade. Entretanto, de uma forma geral, esses testes são realizados ao nível de fibra e, raramente, no produto acabado (MODEFICA et. al, 2020). Ainda assim, não são apenas os materiais que tornam um produto sustentável, a decisão sobre os métodos de produção também é de grande relevância, dado que o desempenho e a qualidade de construção das peças são indispensáveis para a longevidade do produto.
Parte significativa do impacto ambiental que é produzido por uma peça de roupa ocorre na fase de uso e manutenção. Com o fácil acesso a roupas de baixo custo, não há uma cultura de consertar roupas antigas ou danificadas. Ainda assim, uma série de métodos podem ser explorados para encorajar os usuários nesse sentido, desde engajá-los a fazer seus próprios consertos, até oferecer o serviço de reparo das peças na própria loja. Nessa abordagem, já se prevê quais são as áreas com mais propensão ao desgaste no projeto.
Com identidade minimalista, a COS, marca do Grupo H&M, está inspirando uma cadeia de abastecimento circular. Com o objetivo de se tornar uma marca positiva para o meio ambiente, sua filosofia é projetar para a longevidade. As peças são clássicas e produzidas com tecidos orgânicos, reaproveitados ou reciclados. A marca também conta com um espaço no seu site para que os clientes possam comprar peças usadas com desconto e revender àquelas que já não atendem as suas necessidades. Além disso, compartilham dicas sobre cuidados e os benefícios de cada tipo de fibra utilizada no portfólio de produtos.
Se as roupas têm uma vida útil mais longa, elas podem ser substituídas com menos frequência reduzindo o uso dos recursos virgens e o volume que seria descartado. Mas, vale lembrar que o design para a durabilidade não é uma via de mão única, os bons resultados estão diretamente atrelados a fase de uso. Por isso, compreender a relação entre o usuário e a roupa é de máxima importância para as decisões de projeto, e para que este seja bem-sucedido. A circularidade é sempre um processo colaborativo.
Saiba mais sobre o Relatório Possibilidades para a Moda Circular no Brasil - Padrões de Consumo, Uso e Descarte de Roupas aqui.
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Imagens: cottonbro no Pexels; Kelly Sikkema no Unsplash