Fundamentado nos princípios do conceito cradle to cradle ou do berço ao berço, o Pensamento de Ciclo de Vida é uma abordagem que considera todas as fases que envolvem o ciclo de vida de um produto, compreendendo os estágios de preexistência, maturação e obsolescência. Tal abordagem permite observar como as atividades que constituem a existência dos produtos, seus usos e pós-uso se relacionam e impactam os ecossistemas do planeta.

Para que essa abordagem orientada para o pensamento sistêmico possa ser validada com precisão, é necessário o uso de metodologias e ferramentas que possibilitem o cálculo dos impactos ambientais gerados pelos processos, produtos, serviços, transporte, distribuição, uso, manutenção, reciclagem e pós-consumo. A metodologia utilizada para calcular esses impactos provenientes do fluxo de recursos e resíduos é a Avaliação do Ciclo de Vida, também conhecida pela sigla ACV.

Para auxiliar nos estudos de ACV utiliza-se uma ferramenta computacional ou software de ACV, reconhecido pela série de normas ISO 14040. A ferramenta com aplicabilidade em vários setores industriais, dispõe de base de dados atualizados comuns a outros ciclos de vida como materiais, energia, transportes etc., que ao serem cruzados com os dados do escopo do estudo a ser mensurado, fornecem informações numéricas que contribuem para tomada de decisões das empresas no processo de melhoria do desempenho ambiental de produtos e processos.

Além disso, os softwares também possibilitam uma análise comparativa entre dois produtos ou processos similares, seja em qualquer etapa do ciclo de vida do produto – pré-produção, produção, distribuição, uso ou descarte, inclusive, em sistemas produtos-serviço (PPS), de modo que seja possível o controle de processos e o gerenciamento das atividades a partir da gestão de dados.

 

O processo de Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) ocorre a partir dos estágios:

1. definição do escopo do estudo e objetivos;
2. análise do inventário;
3. avaliação de impacto;
4. interpretação dos resultados.

Devido a demanda de recursos necessários para execução da análise, o processo de obtenção dos resultados exige tempo e profissionais capacitados. Porém, há um aspecto positivo quanto à apresentação dos resultados, eles podem ser exibidos de maneira mais acessível, por meio de gráficos, fluxogramas e tabelas, garantindo uma melhor compreensão e interpretação dos usuários.

Encontram-se no mercado diversas ferramentas de ACV, sendo cada uma com determinada característica e indicação para estudo. Da mesma forma, existem uma variedade de empresas que oferecem o serviço de consultoria que inclui o próprio estudo de ACV, assim como o serviço de assessoria para empresas que desejam fazer uso da ferramenta internamente, mas que precisam capacitar os profissionais para realizar as análises.

O uso da ferramenta direcionada ao projeto de produto, por exemplo, possibilita a redução no uso de recursos e/ou a seleção de recursos e processos de baixo impacto ambiental; otimização da vida útil dos produtos e extensão da vida dos materiais. Considerando que todos os produtos representam impactos para o meio ambiente, a ferramenta de ACV permite identificar os pontos críticos do ciclo de vida do produto, criando oportunidade para se reavaliar práticas e determinadas escolhas de design que podem estar ampliando os prejuízos para o meio ambiente.

Ao levar em consideração o ciclo de vida de uma peça de roupa de uso frequente como uma t-shirt, por exemplo, estudos apontam a fase de uso e manutenção como a fase em que há maior consumo de energia, diferentemente do ciclo de vida de um casaco, onde a fase que representa maior impacto durante o ciclo de vida é a fase de produção. Contudo, os resultados obtidos sobre o consumo de energia durante a fase de uso e manutenção, podem sofrer variações de acordo com a temperatura da água, carga de lavagem na máquina de lavar e se a roupa foi passada ou não.

Os impactos durante essa fase também dependem dos padrões de consumo locais/culturais do usuário, além da forma como os itens são mantidos e por quem. Com os dados numéricos em mãos, a empresa pode atuar de forma transparente com uma comunicação voltada para a conscientização do uso de recursos durante toda a fase de utilização e manutenção do produto, fornecendo informações que possam tangibilizar os efeitos ambientais dos hábitos e comportamento do usuário.

Em revisão de literatura, alguns autores apontam para a escassez de dados referentes a algumas categorias de impactos mais específicos da cadeia de valor têxtil como os produtos químicos. Utilizados durante as fases de pré-produção e produção/fabricação dos produtos, os componentes de corantes sintéticos, pesticidas, detergentes entre outros, oferecem riscos de contaminação ao meio ambiente e à saúde humana durante as etapas de produção, uso e lavagem dos produtos. Em razão disso, surgem como pontos sensíveis a serem examinados através da ferramenta de ACV, a fim de identificar os níveis de toxicologia desses insumos e comparar o desempenho ambiental com outros componentes possíveis de substituição.

Do ponto de vista dos negócios, a utilização da ferramenta oferece a oportunidade de as empresas explorarem novos mercados, reduzirem custos e melhorarem a lucratividade a partir dos processos e produtos com qualidades ambientais. Explorar essa funcionalidade no marketing também permite que as empresas aumentem sua credibilidade frente às ações, e colaborem para que outras empresas e consumidores possam fazer escolhas de materiais e produtos mais assertivas com base no impacto ambiental calculado pela ferramenta de ACV.

 

Referências bibliográficas:

CAMPOLINA, Juliana Mendes; SIGRIST, Carolina São Leandro; MORIS, Virgínia Aparecida da Silva. Uma revisão de literatura sobre softwares utilizados em estudos de Avaliação do Ciclo de Vida. Revista Eletrônica em Gestão, Educação e Tecnologia Ambiental, [s. l], v. 19, n. 2, p. 735-750, 2015.

PIONTEK, Felix M.; MÜLLER, Martin. Literature reviews: Life Cycle Assessment in the context of Product-Service Systems and the Textile Industry. In: CIRP LIFE CYCLE ENGINEERING (LCE) CONFERENCE, 25., 2018, Copenhagen. 25th CIRP Life Cycle Engineering (LCE) Conference, 30 April – 2 May 2018, Copenhagen, Denmark. [S.L.] Copenhagen: Procedia Cirp, 2018. v. 69, p. 758-763. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2212827117309174. Acesso em: 03 out. 2022.

VEZZOLI, Carlo. Design de Sistemas para a Sustentabilidade: teoria, métodos e ferramentas para o design sustentável de "sistema de satisfação". Salvador: Edufba, 2010. 342 p.

 

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