RETOMADA COM PLANEJAMENTO: O PROBLEMA (AINDA) É O ESTOQUE
Estamos fazendo parte de um marco histórico do setor de moda. Palavras como reiniciar, reestruturar, religar, reexaminar são apenas algumas que temos ouvido com frequência, na mídia e na indústria em geral, para expressar a necessidade de uma mudança disruptiva. De alguma forma em meio a tantas possibilidades, os mais atentos, estão adotando uma estratégia “pensante”, revisando a forma como operavam antes da pandemia para evitar os mesmos erros que aconteceram no passado, como estoques inchados e queima de produtos devido a volumes excessivos produzidos sem o devido planejamento.
Além disso, conforme previsto logo no início da pandemia, estamos atravessando um período de escassez de matéria-prima devido à parada da produção e da importação de insumos têxteis, ainda não normalizada. No polo pernambucano de Santa Cruz de Capibaribe (entre outros), não há previsão de entrega de tecidos e já existe uma fila, literalmente, de confeccionistas ansiosos por comprar tecidos e retomar suas atividades. O tal do “novo normal” se tornou uma falácia; resiliência radical, adaptabilidade e oportunismo intuitivo se tornarão as maiores vantagens competitivas das empresas daqui para a frente. E em se tratando de planejar o mix de produtos, não poderia ser diferente.
É fato que a indústria de confecções nacional, possui uma variedade de modelos de negócios que se desdobram em uma diversidade de atendimentos ao cliente e que por vezes dificultam apontar uma única estratégia para planejamento de coleções. Mas existe um ponto importante em comum: os volumes excessivos de produção da forma como era praticado não são mais sustentáveis. Comprar matéria-prima de fornecedores que determinam uma quantidade de variações de cores como pedido mínimo e produzir aleatoriamente não é o melhor caminho (apesar das prateleiras vazias), já que quase todas as falhas no sistema de moda sempre resultaram em um único problema: o estoque parado.
O planejamento e a execução cuidadosos da quantidade, da definição de categorias das coleções principais e do intervalo de novas entradas em menor escala (coleções cápsulas/aditivas), se tornarão parte da chave para o sucesso.
Num post anterior (Coleções Resilientes) dissemos que um estudo recente da plataforma Trendstop concluiu que, cerca de 25% dos produtos em qualquer faixa geram 75% dos lucros. Isso significa que uma marca poderia dispensar, confortavelmente, 75% de sua coleção sem impactar as vendas, além de economizar tempo, recursos e dinheiro. Imagine se esses 75% pudessem ser alocados para fomentar talentos, desenvolvimento operacional, ampliação de canais entre tantas outras coisas?
Com uma demanda ainda instável ou pelo menos cautelosa em decorrência de uma crise econômica também desencadeada pela pandemia, a produção em massa em ciclos contínuos, ainda representa um grande risco.
Produzir “menos, mas melhor” (e sem desespero) tornou-se uma saída estratégica adotada pelas empresas em geral, a despeito do seu segmento de mercado ou modelo de negócios. Um produto bem planejado requer uma aplicação de elementos que abranja todas as facetas do design, desde tecidos, cores, estampas, forma e detalhes. Cada componente desses representa cerca de 20% do potencial de vendas de um produto. Se um aspecto falhar, o resto do produto não venderá tão bem quanto poderia, desperdiçando esforços e recursos.
Reavaliar a gama de produtos aprimorando o design e planejando, cuidadosamente, cada linha, será mais lucrativo e trará menos desperdício. A despeito do seu modelo de negócio –atacado, varejo ou atacarejo – selecionar e reduzir criteriosamente uma grande coleção, quer seja para o reinício das atividades ou para uma nova temporada, e adotar uma estratégia de coleções aditivas e intermediárias ao longo de um período, em volumes e intervalos menores, permancendo mais próximo à demanda, pode trazer vários benefícios.
"Em vez de tomar decisões com base no que vai vender, tome decisões com base no que seu cliente vai adorar, porque isso, de fato, é o que vai vender."
Autodiagnostico: Você planejou sua coleção para a retomada? Já parou para pensar qual a porcentagem de produtos, por coleção, é mais lucrativa? Analise quais categorias de produtos e suas características como formas, cores, tecidos e etc. contribuem, efetivamente, para o lucro da sua coleção.