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Aproveitamento de resíduos da indústria têxtil: desperdício e lodo

 

Por NuSEC (Elisa Esteves, Victoria Santos, Angelica Coelho)

Dentre os resíduos sólidos gerados pelo setor têxtil e de confecção encontram-se as sobras de tecidos e outros insumos gerados em seus processos produtos.

De acordo com a ABIT (2017), estima-se que no Brasil sejam geradas 170 mil toneladas de resíduos têxteis por ano, considerando-se uma perda média de 10% de tecido no processo de corte para a confecção. Desse total, 40% são processados por empresas de reciclagem, e 60% (cerca de 100 mil toneladas) são descartados em aterros sanitários.

A hierarquização de melhor aproveitamento de resíduos sólidos da PNRS define que a reciclagem só deve ser utilizada como alternativa caso não se consiga reutilizar, reduzir ou até mesmo não gerar estes resíduos. A reciclagem é uma opção viável para valorização de produtos, prolongando sua vida útil. Apesar disso, ao se considerar o setor têxtil e de confecção, algumas oportunidades de melhoria na reciclagem devem ser consideradas, como:

  • Logística de separação de resíduos de corte e varredura para um melhor aproveitamento;
  • Consumo energético no processo;
  • Existência de fibras curtas (algodão e viscose);
  • Mistura de fibras no processo de tecelagem;
  • Existência de resíduos químicos altamente tóxicos e poluentes após processos de beneficiamento (UNIVASF, 2018).

O volume de desperdícios do setor têxtil e de confecção geraram um mercado de importação/exportação dessas sobras. O Portal para acesso gratuito às estatísticas de comércio exterior do Brasil (Comex Stat) apresenta esses produtos catalogados pela Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM). Os desperdícios e estopas incluem fibras naturais (linho, algodão, juta, lã, seda, pelos), artificiais e sintéticas além de tecidos e confecções oriundos de desperdícios de seda, especificamente. Os dados estatísticos das sobras são inclusive mais bem detalhados para exportação/ importação do que para a produção, onde os desperdícios são catalogados no banco de dados estatísticos (SIDRA) do IBGE.

Nos últimos 10 anos, o país importou em média 4,4 mil toneladas de fibras e fios desperdiçados por ano, a um custo médio de US$ 6 milhões por ano (US$ 1364/ton). A Figura 1 ilustra a variação anual da importação de fibras e fios descartados no país por massa (kg) e valor FOB (US$). Do volume total importado, 48% são de fios vegetais de algodão, 23% de fibras artificiais e sintéticas e 25% de fibras vegetais.

Fig. 1. Variação anual das importações de fibras e fios desperdiçados pelo Brasil em termos mássico e econômico.

Neste mesmo período, o setor têxtil exportou em média 36 mil toneladas (99% destes correspondem a fibras vegetais), a um preço médio de US$ 71 milhões por ano (US$ 1972/ton). A Figura 2 ilustra a variação anual da exportação de fibras e fios descartados no país por massa (kg) e valor FOB (US$).

Fig. 2. Variação anual das exportações de fibras e fios desperdiçados pelo Brasil em termos mássico e econômico.

Além do desperdício propriamento dito, oriundo de resíduos de corte e varredura, a indústria têxtil também gera efluentes ao longo de seu processo produtivo.

No tratamento destes efluentes é gerado o lodo, sedimento sólido rico em matéria orgânica (CONAMA 375/2006). As características do lodo variam de acordo com a natureza da água, dos reagentes, das etapas de processamento, e dos produtos químicos aplicados no tratamento. Existem diferentes métodos de tratamento de efluentes que variam de acordo com sólidos dissolvidos totais (TDS), demanda bioquímica de oxigênio (DBO) e carbono orgânico dissolvido (COD), conforme apresentado na Tabela 1.

Tabela 1. Melhores opções de tratamento de efluentes de acordo com características físico-químicas.

No Brasil, este resíduo é enviado para aterros sanitários, porém existem outras alternativas, tendo em vista a necessidade de reduzir o grande volume de resíduos e aumentar a circularidade dos processo produtivos, como:

  • Geração de energia;
  • Material para construção civil (concretos e tijolos argilosos);
  • Fertilizante (adubo para o solo), quando livre de corantes;
  • Óleo incinerável usando um solvente;
  • Incinerado como um absorvente para remoção de corante de águas residuais;
  • Infundido na carga de gás dos fumos para matar os fluxos de saída de NOx para mudar de NOx para gás nitrogênio (Kahn e Hill 1998).

O uso de lodo têxtil na geração de energia está limitado às características fisico-quimicas deste:

  • Elevada unidade (acima de 80%), o que influencia diretamente na queima;
  • Baixa concentração de sólidos totais e voláteis, indicando menor geração de energia em relação a outras biomassas;
  • Elevado teor de cinzas, o que reduz a transferência de calor e aumenta a corrosão de equipamentos;
  • Baixa quantidade de carbono, indicando menor poder calorífico.

A secagem do lodo ocorre para separação e melhor aproveitamento das frações sólida e líquida. O método de secagem mais utilizado é o térmico. Para o aproveitamento do lodo como combustível sólido, deve-se reduzir a umidade a 20%. Porém, temperaturas altas no secador térmico reduzem o valor calorífico do lodo de esgoto.

Ainda se tem muito trabalho a fazer. Os resíduos sólidos da indústria têxtil e de confecção necessitam de tecnologias e inovações que comprovem e potencializem o aproveitamento das sobras e dos efluentes gerados. Nesse sentido algumas pesquisas e patentes vêm sendo desenvolvidas para solucionar o problema de consumo de energia durante o processo de secagem, onde o poder calorífico do lodo é totalmente aproveitado, bem como na circulação eficiente de água residual da produção de têxteis pós tratamento.

 

O Núcleo de Sustentabilidade e Economia Circular (NuSEC) do SENAI CETIQT está aqui para apoiar a indústria têxtil e de confecção nessa transição para a sustentabilidade. Para maiores informações entre em contato com nusec@cetiqt.senai.br.

Obtenha dicas de como avançar em direção à sustentabilidade e economia circular acessando a nossa Autoavalição de Maturidade Circular.

 

Saiba mais sobre as estatísticas de comércio exterior do Brasil (ComexStat) aqui. 

 

Imagem Foto de Alex Fu no Pexels.


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