Responsive Image
Resíduos sólidos na indústria têxtil e de confecção

Por NuSEC (Elisa Esteves e Victoria Santos)

Nas últimas décadas as companhias vêm incorporando diversos indicadores qualitativos e quantitativos para mensurar o avanço das práticas empresariais nos 3 pilares da sustentabilidade: ambiental, social e econômico. Algumas empresas apresentam esses indicadores em seus relatórios anuais, definindo metas a serem atingidas em um determinado tempo. De maneira geral, estas empresas possuem esses indicadores e metas alinhados com os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) para 2030.

Dentre os indicadores ambientais mais relevantes para o setor têxtil e de confecção destacam-se os relacionados aos resíduos sólidos, pois, de acordo com relatório Design4Circle (2019), o setor é o maior gerador de resíduos industriais do mundo.

Descontando o contexto da pandemia, nos últimos 20 anos, o consumo de produtos têxteis dobrou, atingindo 100 milhões de toneladas. Destes, 67% sãos descartados em aterros sanitários e apenas 15% são reciclados (Shivranimoghaddam et al., 2020), com menos de 1% indo para novos têxteis (Ellen MacArthur, 2017).

Além disso, estima-se que esse montante de resíduos cresça 48% até 2030 (GFA, 2017).  Ou seja, a questão dos resíduos sólidos ainda apresenta grandes desafios quanto ao seu melhor aproveitamento e destinação final adequada.

No Brasil, esta problemática começou a ganhar importância em 2010, com a instituição da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) cujos objetivos incluem:

  1. a gestão integrada de resíduos sólidos,
  2. a adoção, desenvolvimento e aprimoramento de tecnologias limpas a fim de minimizar impactos ambientais,
  3. o estímulo à adoção de padrões sustentáveis de produção de bens de consumo e oferta de serviços,
  4. o estímulo à implementação da avaliação do ciclo de vida de produtos, e
  5. a hierarquização de melhor aproveitamento dos resíduos solidos, que definide uma ordem de priorização que vai desde a não geração, até a disposição final adequada, quando as demais alternativas não forem totalmente atendidas (Figura 1).

Fig 1. Hierarquia de melhor aproveitamento dos resíduos sólidos.

Em 2020 foi criada pelo IBAMA a plataforma online “Painel da Geração de resíduos no Brasil”. Esta plataforma possui dados sobre a geração de resíduos sólidos não urbanos (perigosos e não perigosos) por unidade da Federação e por CNPJ de empresas. Os dados são a partir do ano de 2012 e abrangem as diferentes categorias de atividades (indústria extrativista e de transformação, serviços, etc) e tipos de resíduos (metálicos, cascalho, areia, poeiras, lodo, têxteis, agrosilvopastoris, químicos, couro, papel etc).   

Para a categoria de atividade “Indústria têxtil, de vestuário, calçados, acessórios e artefatos de tecido”, estão contabilizadas 2.869 empresas geradoras de resíduos divididos entre os segmentos de:

  • beneficiamento de fibras têxteis de origem animal, vegetal e sintéticos;
  • fabricação e acabamento de fios e tecidos;
  • tingimento, estamparia e outros acabamentos; e
  • fabricação de calçados e seus componentes.

Estão incluídas empresas de diferentes portes, com volume de geração anual de resíduos variando de volumes inferiores a 1 tonelada/ano até volumes superiores a 1.000 toneladas/ano.

Apesar disso, o total de empresas presentes no relatório representa apenas 5,4% do total de estabelecimentos registrados com CNAE (Classificação Nacional de Atividade Econômica)  de acordo com dados do IBGE (IBGE, 2018). Além disso, os dados disponibilizados de algumas empresas apresentam grandes flutuações de um ano para o outro, o que reduz a confiabilidade destes dados.

Com relação ao tipo de resíduos, o maior volume da indústria têxtil está relacionado principalmente ao lodo (em média 40%) e aos desperdícios (resíduos) de acabamentos e de fibras têxteis (em média 30%).

O lodo consiste no resíduo rico em matéria orgânica gerado nos processos de tratamento de efluentes (CONAMA 375/2006). Na indústria têxtil, o lodo é geralmente apresenta quantidades significativas de metais pesados oriundos das tintas utilizadas em processos de pigmentação de tecidos.

Os desperdícios de acabamentos e fibras têxteis são muito recorrentes na indústria têxtil, pois, além da questão cultural, ainda existem poucas tecnologicas robustas e competitivas que gerem produtos de qualidade a partir destes materiaise.

As práticas de reuso, reparo e reciclagem estão totalmente relacionadas ao conceito de economia circular que preconiza a valorização dos produtos após vida útil (Figura 2), visando novos produtos ou serviços, proporcionando oportunidades de negócios, além de benefícios socioambientais (Ellen MacArthur, 2020).

Fig 2. Economia circular aplicada a cadeia têxtil e de confecção.

Em contrapartida à visão convencional do reuso e da reciclagem, a Economia Circular, prioriza o chamado upcycling, onde os materiais que saem dos processos produtivos são incorporados/transformados em produtos de maior valor agregado. Um exemplo deste caso na cadeia têxtil é o programa Retalhar que transforma uniformes usados em matéria-prima a ser aplicada na indústria automobilística e da construção civil. Esta temática será melhor trabalhada na publicação de fevereiro.

O Núcleo de Sustentabilidade e Economia Circular (NuSEC) do SENAI CETIQT está aqui para apoiar a indústria têxtil e de confecção nessa transição para a sustentabilidade. Para maiores informações entre em contato com nusec@cetiqt.senai.br.

Obtenha dicas de como avançar em direção à sustentabilidade e economia circular acessando a nossa Autoavaliação de maturidade circular.

 

Saiba mais sobre a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) aqui. 

Saiba mais sobre a plataforma online do IBAMA (Painel da Geração de resíduos no Brasil) aqui.

 

Imagem: Tom Fisk no Pexels.


Compartilhar

ARTIGOS RELACIONADOS

assine nossa newsletter
E RECEBA NOSSOS MELHORES CONTEÚDOS!