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Conceitos e ferramentas envolvidas na escolha de indicadores

 

Por NuSEC (Elisa Esteves, Victoria Santos e Angelica Coelho)

 A publicação anterior  abordou sobre a utilização de diferentes conceitos para classificar e organizar os indicadores de sustentabilidade empresarial em temáticas distintas. Apesar disso, verifica-se que ainda hoje existe uma grande inconsistência a respeito das terminologias utilizadas na definição e mensuração do desempenho sustentável. O presente texto apresenta a base conceitual e metodológica utilizada pelo NuSEC e visa apoiar demais atores do setor para a estruturação de seus sistemas de indicadores.

As métricas constituem o elemento primário dos indicadores. Em geral, são medidas compostas por uma única variável que disponibilizam informações básicas, e que, individualmente, contribuem pouco na tomada de decisão.

Os indicadores, por sua vez, se referem a uma variável ou um agregado de variáveis cujos valores fornecem informações sobre uma dada realidade. Podem ser gerados a partir de um conjunto de métricas, com o objetivo de viabilizar a quantificação e o acompanhamento de metas, auxiliando na tomada de decisão (Madu).

Já o índice é o valor numérico assumido pelo indicador em um determinado instante de tempo (Shields et al., 2002, Siche et al., 2007). Tal diferenciação é mais relevante na perspectiva acadêmica. Do ponto de vista das publicações empresariais, os dois termos se confundem, sendo utilizados para a mesma finalidade.

Antes da definição dos indicadores e métricas, é importante que sejam estabelecidos os objetivos e as metas que os mesmos visam apoiar.

O objetivo consiste no resultado (em geral, qualitativo) que se pretende alcançar quando se estabelece uma estratégia. A meta, por sua vez, é o resultado quantitativo a ser atingido para um determinado objetivo, sinalizando a direção para a qual as decisões e ações devem ser apontadas em um dado prazo.

De maneira geral, os princípios e prioridades empresariais são os direcionadores dos objetivos e metas, que são mensurados por meio de indicadores.

A Figura 1 ilustra as relações das diferentes terminologias aplicadas a um exemplo prático utilizado pela Malwee em seu relatório de sustentabilidade.

Figura 1 – Exemplo prático da relação entre as diferentes terminologias. O indicador é composto por métricas, que, para o ano de 2018, se apresentam numericamente a partir do índice no valor de 0,07 kg de resíduos por peça. Tal indicador foi definido em função do objetivo de atender ao ODS 12 e, para o qual foi estabelecida a meta de redução de 40% em relação ao ano de 2014.

Os indicadores são peça central para garantir o avanço das práticas de sustentabilidade. De maneira geral um bom indicador deve ser (Fiksel, 2009 ):

  • Simples de entender, apresentando clareza e transparência na informação fornecida;
  • Relevante, refletindo oportunidades de melhorias;
  • Prático, ao permitir uma implementação econômica e, sempre que possível, aproveitando dados existentes;
  • Objetivo ao apresentar quantificação estatística e lógica coerente;
  • Abrangente ao fornecer uma avaliação geral do progresso em relação às metas; e
  • eficiente ao comunicar o estado do fenômeno observado.

Desse modo, um indicador de sustentabilidade representa um atributo mensurável de aspectos ambientais, econômicos e/ou sociais de uma organização. Assim, ele é útil para monitorar mudanças nas características organizacionais para o alcance e manutenção do bem-estar socioeconômico e ambiental (i.e., do desenvolvimento sustentável) (EPA framework, 2012).

Os indicadores de sustentabilidade geralmente são agrupados por temas. Conforme apresentado na publicação anterior, o GRI (Global Reporting Initiative) agrupa os indicadores de acordo com os pilares da sustentabilidade (social, econômico e ambiental) (Figura 2).

Figura 2 – Hierarquia de múltiplos níveis para agrupamento de indicadores

No entanto, as empresas podem reagrupar seus indicadores da maneira que entendem como mais apropriadas para comunicar suas estratégias de ação.

A empresa Inditex (dona da marca Zara), por exemplo, criou um modelo próprio de relato de sustentabilidade: o “Our Sustainability Model”. Este modelo reagrupa os disclosures do GRI nas temáticas: 1) Pessoas, na vanguarda da nossa transformação; 2) Abordagem sustentável global e transversal; 3) Inovação na experiência do cliente; 4) Transparência tributária; 5) Trabalhar para a comunidade; 6) Pensando nos acionistas; 7) Arquitetura robusta de conformidade; 8) Parcerias e colaborações. 

Assim, verifica-se que os diferentes indicadores podem ser agrupados em temas e sub-temas de acordo com as necessidades de o informante transmitir o conhecimento em seu relatório da melhor forma possível, definindo uma hierarquia alinhada entre estas ramificações. No entanto, tal flexibilidade, apesar de positiva do ponto de vista valorização da identidade do negócio, cria mais um elemento de complexidade metodológica, especialmente para comparar o desempenho de diferentes empresas ou mesmo de uma empresa com ela mesma pois tais modelos também mudam ao longo do tempo na organização.

Agora, como selecionar os indicadores mais adequados para sua empresa?

 A escolha dos indicadores de sustentabilidade mais adequados a um determinado setor produtivo nem sempre é fácil. Existem diversos modelos que podem ser utilizados para auxiliar nesta escolha.

Este texto propõe uma abordagem de perguntas-chave para definição dos indicadores a serem escolhidos, baseando-se na ferramenta de gestão organizacional 5W1H (What, Why, Where, When, Who, How):

  • What - Qual o estado (mudança) pretendido?

Escolha do indicador deve ser baseada em visões de futuro e metas estipuladas

  • Why - Por que há essa necessidade?

A justificativa de escolha de um indicador deve ser definida por prioridades pré-estabelecidas.

  • Who - Para quem queremos os indicadores? Quem vai usá-los (manipulá-los)?

Os indicadores devem ser escolhidos de acordo com as pessoas/atores envolvidos e/ou que têm influência no contexto.

  • When – Quando? Qual o horizonte/ abrangência temporal necessária?

A escolha do indicador deve estar sujeita a verificação de prazos e períodos de duração determinados nas metas.

  • Where – Onde? Qual a área de abrangência física do aspecto abordado?

A escala espacial (local, regional, global) de abrangência do indicador deve ser definida de acordo com metas e objetivos estipulados.

  • How – Como os indicadores serão utilizados? Como serão calculados?

A escolha dos indicadores também deve estar pautada em informações disponíveis, sendo necessária uma pesquisa de dados.

Apesar da ampla necessidade de uso de indicadores de sustentabilidade, sua implementação ainda apresenta diversos desafios atrelados especificamente aos setores econômico/produtivo.

No Brasil, apesar de existirem algumas iniciativas práticas de empresas específicas, o setor têxtil e de confecção ainda encontra dificuldade. Isso se dá tanto na sensibilização de partes interessadas (fornecedores e consumidores), quanto no estabelecimento de objetivos e metas (visão de futuro) para a construção, implementação e acompanhamento de indicadores.      

O NuSEC está aqui para apoiar a indústria nessa transição para a sustentabilidade. Para maiores informações entre em contato com nusec@cetiqt.senai.br.

Obtenha dicas de como avançar em direção à sustentabilidade e economia circular acessando o nossa Autoavaliação de Maturidade Circular.

 

Saiba mais sobre:

  • Os indicadores de sustentabilidade utilizados na indústria têxtil e de confecção aqui.
  • As metas e objetivos estabelecidos pela Malwee em seu relatório de sustentabilidade aqui. 

 

Imagem on Tyson on Unsplash

 


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