Design como ferramenta estratégica para a Economia Circular
Por NuSEC (Elisa Esteves, Victoria Santos e Angelica Coelho).
A cadeia têxtil e de confecção possui diversas etapas em sua cadeia produtiva, partindo da extração da matéria-prima, a produção das fibras (setor têxtil), confecção dos diversos segmentos envolvidos (vestuário e acessórios, linha lar e técnicos), indo até a distribuição aos consumidores (Figura 1).
Figura 1 - Cadeia Produtiva da Indústria têxtil e de confecção.
Este processo, da forma como se apresenta, é linear, onde fabricação, uso e descarte ocorrem sem preocupação com a revalorização dos produtos após consumo. Este modelo de produção e consumo portanto se insere no contexto da economia linear.
No entanto, a preocupação dos produtores com a destinação final de seus produtos tem se intensificado muito nos últimos anos, principalmente com o advento da Economia Circular.
No Brasil, a logística reversa, definida pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), de 2010, é o principal instrumento que obriga fabricantes a se responsabilizar por seus produtos e embalagens, após sua vida útil, com a reintrodução dos mesmos numa cadeia de valor ou com o descarte adequado.
Esta reintrodução dos produtos à cadeia produtiva está intimamente atrelada ao conceito de Economia Circular, que preconiza a valorização dos produtos após vida útil visando novos produtos ou serviços, com o fim de reduzir os impactos negativos da economia linear, e reduzir o consumo desenfreado em longo-prazo por meio da geração de oportunidades de negócios. e proporcionando benefícios socioambientais (Ellen MacArthur, 2020 ).
O relatório sobre habilidades e competências para uma renovação do setor têxtil e de confecção desenvolvido pela Comissão europeia baseia a economia circular em 3 princípios fundamentais:
1) Eliminar resíduos. A economia circular visa eliminar os impactos negativos da atividade econômica que causam danos à saúde humana e aos sistemas naturais;
2) Manter os produtos e materiais em uso, projetando-os para durabilidade, reutilização, remanufatura e reciclagem;
3) Regenerar sistemas naturais, evitando o uso de recursos não renováveis e preservando os renováveis.
No Reino Unido, Órgão Nacional de Normas (BSI – British Standards Institution) desenvolveu a primeira estrutura de orientação para práticas organizacionais de Economia Circular em qualquer tipo/ tamanho de companhia, e aplicável em qualquer lugar do mundo. O guia BS 8001: 2017:
1) Pensamento sobre o sistema, onde os impactos da atividade são percebidos e entendidos;
2) Inovação, onde a gestão de recursos é repensada para a criação de valor;
3) Administração, onde o produtor deve assumir a responsabilidade pelos impactos do efeito cascata resultantes de suas decisões e atividades;
4) Colaboração, garantindo que benefícios de todo o sistema coopere com outros;
5) Otimização de valor, mantendo os materiais em seu valor e função mais elevados;
6) Transparência, sendo aberto e honesto sobre barreiras circulares e seus benefícios.
Observa-se uma nítida relação entre os princípios abordados nos dois documentos, onde o objetivo principal é reduzir a geração de resíduos, reprojetando produtos e regenerando sistemas, a fim de aumentar o valor agregados dos produtos, bem como criar um ambiente mais responsável e colaborativa entre os produtores envolvidos.
No setor têxtil e moda, vários princípios circulares devem ser aplicados ao longo do ciclo de vida, a fim de se adequar à economia circular (Desing4Circle, 2019):
- Design - inspirado na natureza, pensando para não geração de resíduo, voltado para a circularidade e eficiência no uso de recursos e energia;
- Recursos – escolhidos a partir de materiais com menor impacto ou materiais reciclados;
- Produção – ética e que considere tecnologias limpas;
- Varejo e consumo – novo perfil de consumidor, mais consciente, compra-venda de artigos de segunda mão;
- Fim da vida - voltado para reutilização e reciclagem, além de aumento de produtos biodegradáveis.
Nesse sentido, o Plano Nacional de Resíduos Sólidos (PLANARES), que está em consulta pública até 16 de novembro de 2020, define entre suas principais estratégias para a gestão de resíduos sólidos urbanos (RSU) e industriais (RI), o estímulo à incorporação de princípios de economia circular nos processos de design, produção e comércio. O plano também cria um cenário onde, até 2028, se observará um movimento crescente para o consumo consciente, e início de pressão do consumidor sobre indústrias para o desenvolvimento de produtos que sigam conceitos de ecodesign.
Para a Economia Circular a geração de lixo é um erro de design pois, na etapa de criação do produto é importante prever como será seu encaminhamento no pós-uso. Inclusive, de acordo com dados da Design4Circle, 80% do impacto ambiental de produtos está relacionado ao design (Desing4Circle, 2019). Ou seja, o design pode ser entendido como um elemento chave na transição circular (Figura 2).
Figura 2 – Economia Circular nos elos da cadeia de valor.
De acordo com o livro Moda Sustentável em uma Economia Circular (Aalto University, 2018), o design é peça chave da cadeia de valor para a transição do setor têxtil e de confecção para a sustentabilidade, visto que pode ser pensado:
- Pela extensão do ciclo de vida, com aumento da qualidade e pensamento do produto em longo prazo;
- Para uma desaceleração do consumo, pelo apego emocional do consumidor com seu produto;
- Para o desenho pensando em um fácil reparo, reutilização e/ou reciclagem do produto;
- Para o design pensando em uma fácil desmontagem, com uso de matérias elaborados a partir de uma única matéria-prima.
Práticas de economia circular ainda encontram diversas barreiras para sua implementação, sejam organizacionais (política da empresa, falta de métricas de desempenho, de treinamento e educação e de planejamento estratégico), financeiras (falta de apoio financeiro, de sistema de informação e tecnologia, e falta de vontade e apoio de fornecedores, distribuidores e vendedores) e políticas (falta de regulamentação sistemática e de leis de execução).
Por outro lado, diversos existem motivadores para sua implementação tanto organizacionais (disponibilidade de informação, compartilhamento de conhecimento, colaboração e vantagem competitiva); institucional (certificação ISO 14001 e colaboração ambiental com fornecedor) e cliente/consumidor (pressão da comunidade, conscientização do cliente e financiamento do governo).
O NuSEC está aqui para apoiar a indústria nessa transição para a sustentabilidade e economia circular. Para maiores informações entre em contato com nusec@cetiqt.senai.br.
Obtenha dicas de como avançar em direção à sustentabilidade e economia circular acessando o nosso Autoavaliação de maturidade circular.
* Saiba mais sobre os indicadores de sustentabilidade utilizados na indústria têxtil e de confecção aqui.
* Saiba mais sobre a Instituição de Padrões Inglesa (BS 8001) aqui.
* Saiba mais sobre o Plano Nacional de Resíduos Sólidos (PLANARES) aqui.
Imagens: Balázs on Unsplash; Figura: 1 Adaptado de IEMI; Figura 2: Ideia Circular